Por João Bosco de Araújo (*)
Meu avô materno Severino Tavares de Araújo
sucumbia em seu quarto na casa da rua Augusto Monteiro, centro de Caicó, em
1962, aos 69 anos de idade. Estava no fim, após décadas de labuta, mas seus
sentimentos de homem sertanejo, trabalhador e, sobretudo, humano, resistiam e
mesmo em agonia continuavam à flor da pele. Era tempo de festa, mês de
Sant’Ana, banda de música na rua.
Os dobrados tocados pela “Furiosa” chegavam
aos ouvidos e redobravam suas lembranças, memórias de um passado deixado para
trás, mas com a certeza de ter cumprido sua missão terrena.
“Luzia”, pede ele com sua voz já fraquejada, apertando o travesseiro ao peito. “Ajuda-me, preciso ir à janela”. Sem o vigor de outrora, de contemplar a velha banda e suas músicas marciais, chega com o apoio da companheira ao patamar da casa.
Enfileirados, todos uniformizados, disciplinarmente recrutados, os músicos marcham em direção transversal à sua turva visão, numa sinfonia harmônica impecável.
Comovido, antes mesmo de ver terminar a banda passar, suas lágrimas correm face abaixo, semblante esquelético denunciado pela enfermidade, numa expressão que transborda, simultaneamente, alegria e dor.
Compreendia em seu coração a pulsar, aceleradamente, que seria àquela a última cena de ver a banda passar em sua vida, que chegava ao fim!
Ainda criança, todas as vezes que a banda passava minha avó Luzia recordava desse momento lúdico de sua história, de nossas vidas. E chorava!
Silenciosamente, cabisbaixa, enxugava as lágrimas, passando o pano, retirado do colo, no seu rosto enrugado de saudades!
“Luzia”, pede ele com sua voz já fraquejada, apertando o travesseiro ao peito. “Ajuda-me, preciso ir à janela”. Sem o vigor de outrora, de contemplar a velha banda e suas músicas marciais, chega com o apoio da companheira ao patamar da casa.
Enfileirados, todos uniformizados, disciplinarmente recrutados, os músicos marcham em direção transversal à sua turva visão, numa sinfonia harmônica impecável.
Comovido, antes mesmo de ver terminar a banda passar, suas lágrimas correm face abaixo, semblante esquelético denunciado pela enfermidade, numa expressão que transborda, simultaneamente, alegria e dor.
Compreendia em seu coração a pulsar, aceleradamente, que seria àquela a última cena de ver a banda passar em sua vida, que chegava ao fim!
Ainda criança, todas as vezes que a banda passava minha avó Luzia recordava desse momento lúdico de sua história, de nossas vidas. E chorava!
Silenciosamente, cabisbaixa, enxugava as lágrimas, passando o pano, retirado do colo, no seu rosto enrugado de saudades!
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