AZAR NO DIA 13
Miguel
Seabra Fagundes, quando interventor do Rio Grande do Norte foi a Parnamirim
esperar o Sr. Ubaldo Bezerra, que vinha do Rio de Janeiro para sucedê-lo na
Interventoria. Tendo assumido a Chefia do Executivo potiguar, logo após a
derrubada do
Estado Novo, o Desembargador Seabra Fagundes, com rigorosa
imparcialidade,
presidira, no Estado, as eleições presidenciais de 2 de dezembro de 1945.
Estava, agora,
ansioso para livrar-se do Poder.
Ainda
no salão do aeroporto, falando baixo, confidenciava:
-
Ubaldo, amanhã vou lhe passar a Interventoria.
- Não,
de jeito nenhum! Amanhã é 13, dia de azar. Vamos deixar para daqui a uns três
dias.
Depois
de insistir, mostrando-lhe a inconsistência da superstição popular e já
anunciada
na imprensa a solenidade de posse, Ubaldo concordou. E recebeu no dia
13 de fevereiro
de 1946, com a solenidade protocolar, a Interventoria do
Estado.
Iniciava-se,
então, uma das mais disputadas campanhas eleitorais para o Governo do Rio
Grande do Norte. De um alado, o PSD com o seu candidato, o Dr. José Augusto
Varela. Do
outro, o Desembargador Floriano Cavalcanti de Albuquerque, apoiado
pela UDN, e o PSP,
unidos, com o nome de Oposições Coligadas.
Caravanas
percorriam o interior do Estado em campanha eleitoral. E chega a Lagoa de
Montanhas, município de Pedro
Velho, um carro de praça. Dele desembarcam Aluízio Alves,
Moacyr Duarte, Inácio
Meira Pires e o acadêmico de medicina Fernando Ezequiel Fonseca.
De um palanque
improvisado tentam falar ao povo ali aglomerado, mas são impedidos,
ameaçados
por capangas a soldo do chefe político loca. Esta ostensividade odienta
terminou com o assassinato do Sr. Aristides Hortêncio, correligionário das
Oposições
Coligadas. A notícia trágica espalha-se depressa, radicalizando ainda
mais a campanha, já
intolerante e violenta. E a oposição procurou tirar partido
do incidente culpando o Governo
Estadual. Aluízio em comício na praça Pio XII,
falando ao povo, dramatizava, segurando
pelas extremidades a camisa
ensanguentada do amigo assassinado:
- E Eu vi Aristides morrer!...
campanha eleitoral e
desejando desvincular-se
da politicagem, foi substituído
pelo General Orestes da Rocha Lima.
De longe, acompanhando as aperturas do Interventor,
o Desembargador Seabra Fagundes
lembrava-se do encontro no aeroporto,
quando Ubaldo Bezerra, supersticioso,
insistia em não tomar posse no dia 13, dia de azar.
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