Nos primeiros anos da década de 90 período em que chefiei o
Escritório do Ibama em Jardim do Seridó praticamente não teve uma única
segunda-feira em que não acontecesse uma "novidade".
Cito aqui uma delas.
Certa segunda-feira, quando chego e vou abrindo à porta do escritório noto ao lado à existência de um
saco. Observo que o saco “se mexia” e raciocinei existir dentro do mesmo
filhotes de gato colocados por alguém.
Abro as portas do escritório e quando volto para observar o conteúdo existente
no saco, um ancião se aproxima, e me pergunta:
- O senhor está me reconhecendo?
Respondo:
Me perdoe mas... no momento não estou lembrando do senhor.
O
ancião se apresenta:
- Eu sou aquele velhinho que há uns meses atrás, quando eu saí do
hospital, vim aqui e pedi-lhe uns cocos e o senhor além de me dar (os cocos) ainda
mandou o carro me deixar em casa. E hoje eu vim aqui para lhe agradecer, e lhe deixar um presente!
Agradeci e lhe falei que não
precisava trazer nenhum presente. Afinal, o que eu lhe tinha feito foi apenas
um pequeno gesto de humanidade, já que o senhor tinha me dito que estava sem condições financeiras de adquirir tais cocos.
O ancião volta à carga:
- Não senhor, eu faço questão de lhe agradecer e deixar este saco que
está aí na sua frente e que tem um presente que um grande amigo seu me disse, ser um
bicho que o senhor gosta muito de comer!
Imediatamente pensei em uma galinha
caipira.
Abro o saco e... fenomenal susto, pois ao abrir o mesmo, em vez de existir uma galinha caipira - bem gorda - o que havia eram três
filhotes de tejuaçus.
Refeito do susto, passei mais de meia hora explicando ao simplório senhor (que insistia em me presentear) ser aquele local uma unidade do Ibama (coisa que ele alegou nem saber o que era) além de
ser crime ambiental a apanha, a posse, o presente, a venda, o abate e o consumo de animais silvestres que não sejam provenientes de criadouros legalizados pelo órgão ambiental.
Finalmente o "presenteador", demonstrando uma certa decepção pela minha recusa em receber o presente que o mesmo tinha trazido, rendeu-se às minhas palavras, e quando
os demais colegas chegaram para o expediente, solicitei ao agente Antonio
Emídio que fosse apanhar a nossa viatura para levar o ancião até sua
residência. Determinando que, antes, fosse efetuada a devida soltura do "meu presente", em uma mata existente nas cercanias da cidade.
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