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terça-feira, 9 de junho de 2015

DE: CAUSO


Nos primeiros anos da década de 90 período em que chefiei o Escritório do Ibama em Jardim do Seridó   praticamente não teve uma única segunda-feira em que não acontecesse uma "novidade".
Cito aqui uma delas. 
Certa segunda-feira, quando chego e vou  abrindo à porta do escritório noto ao lado à existência de um saco. Observo que o saco “se mexia” e raciocinei existir dentro do mesmo filhotes de gato colocados por alguém.
Abro as portas do escritório e quando volto para  observar o conteúdo existente no saco, um ancião se aproxima, e me pergunta:
- O senhor está me reconhecendo?
Respondo:
Me perdoe mas... no momento não estou lembrando do senhor. 
O ancião se apresenta:
- Eu sou aquele velhinho que há uns meses atrás, quando eu saí do hospital, vim aqui e pedi-lhe uns cocos e o senhor além de me dar (os cocos) ainda mandou o carro me deixar em casa. E hoje eu vim aqui para lhe agradecer, e lhe deixar um presente!
Agradeci e lhe falei que não precisava trazer nenhum presente. Afinal, o que eu lhe tinha feito foi apenas um pequeno gesto de humanidade, já que o senhor tinha me dito que estava sem condições financeiras de adquirir tais cocos.
O ancião volta à carga:
- Não senhor, eu faço questão de lhe agradecer e deixar este saco que está aí na sua frente e que tem um presente que um grande amigo seu  me disse, ser um bicho que o senhor gosta muito de comer!
Imediatamente pensei em uma galinha caipira.
Abro o saco e... fenomenal susto, pois ao abrir o mesmo, em vez de existir uma  galinha caipira - bem gorda -  o que havia eram três filhotes de tejuaçus.
Refeito do susto, passei mais de meia hora explicando ao simplório senhor (que insistia em me presentear) ser aquele local uma unidade do Ibama (coisa que ele alegou nem saber o que era) além de ser  crime ambiental  a apanha, a posse, o presente, a venda,  o abate e o consumo de animais silvestres que não sejam provenientes de criadouros legalizados pelo órgão ambiental.

Finalmente o "presenteador", demonstrando uma certa decepção pela minha recusa em receber o presente que o mesmo tinha trazido, rendeu-se às minhas palavras, e quando os demais colegas chegaram para o expediente, solicitei ao agente Antonio Emídio que fosse apanhar a nossa viatura para levar o ancião até sua residência. Determinando que, antes, fosse efetuada  a devida soltura do "meu presente", em uma mata existente nas cercanias da cidade.

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