NA 'BODEGA DO SEU OCRIDES'
Bira Viegas
Meu pai (Euclides Alves Viegas) tinha uma mercearia e bar localizada em uma das esquinas da 1 (rua Presidente Quaresma) com a 9 (avenida Coronel Estevam), em Natal - RN.
Mais conhecida como "bodega do Seu Ocrides" o local funcionou por algumas décadas sendo palco de incontáveis 'causos e acontecências'.
Narro abaixo um deles:
"Anjinho" era um homem de estatura mediana, magro e ainda bastante jovem. Muito educado, demonstrava ter uma grande cultura. Infelizmente se entregou ao vício da cachaça. Não trabalhava, não era aposentado e não se conhecia nenhum dos seus parente. Morava na rua dormindo sobre as calçadas e vivia da caridade de pessoas que lhe davam um prato de comida e daqueles que lhe pagavam doses e doses de cachaça. Era apreciador de uma "Olho D'água", antiga marca de cachaça fabricada em São José do Mipibu - RN.
Findava o dia e sem ter alguém para lhe ofertar uma dose de cana, Anjinho entra na bodega e se dirige ao meu pai:
- Seu Ocrides... o senhor me vende uma dose fiado?
Meu pai que naquela momento estava atarefado despachando um cliente diz:
- Fiado só amanhã!
E Anjinho com sua costumeira calma:
- Sendo assim Seu Ocrides vou ficar ali do lado de fora esperando findar o dia de hoje e amanhã quando o novo dia clarear e a bodega for aberta, o senhor me vende uma dose?
Escutando as palavras de Anjinho, meu pai que tinha um coração maior do que o corpo, se apiedou do mesmo e imediatamente encheu um copo de cana. Entregou na mão de Anjinho, pediu para minha mãe preparar um prato com comida para o mesmo, e disse:
- Anjinho... Para você o novo dia já nasceu! E hoje você não paga nada!
Ainda lembro o sorriso de felicidade de Anjinho escutando as palavras do meu pai e bebendo vagarosamente sua dose de "Olho D'água".
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Este 'causo' acima narrado será publicado no livro CAUSOS, RIMAS E OUTROS ESCRITOS que esperamos publicar neste ano de 2016.
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