Revista mostra o que falta para Lula ser preso
É iminente a prisão de Lula, segundo a revista semanal 'IstoÉ'
Publicado: 07 de maio de 2016 às 02:51 - Atualizado às 03:00
Denunciado
pela Procuradoria da República e com pedido de prisão nas mãos de
Sérgio Moro, o ex-presidente nunca esteve tão perto da cadeia, informa
reportagem de Débora Bergamasco para a revista IstoÉ. Leia a íntegra:
Nos últimos dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desabou.
Não seria a primeira recaída desde o início das investigações do
Petrolão, responsáveis por tisnar sua imagem de homem probo semeada
desde os tempos do sindicalismo no ABC Paulista. Mas ao contrário dos
outros momentos de fragilidade, Lula desta vez expôs um sentimento
insólito a companheiros de longa data: o de culpa. Pela primeira vez,
pôs em xeque o próprio faro político – considerado indefectível no seio
do petismo. Em uma longa conversa, em Brasília, com um amigo, o
ex-presidente lamentou em tom de desabafo, depois de fazer uma breve
retrospectiva de sua vida pública: “Não me perdôo por ter feito a
escolha errada”. O petista se referia ao fato de ter apostado todas suas
fichas e ter feito de Dilma Rousseff sua sucessora. O arrependimento,
porém, tem pouco a ver com o desastre político-econômico provocado pela
gestão da pupila. Lula é um pote até aqui de mágoas porque, em sua
avaliação, ela nada fez para blindá-lo e o seu partido das garras
afiadas da Lava Jato. Para Lula, Dilma queria entrar para a história
como a presidente do combate à corrupção – mesmo que, para isso, tivesse
de sacrificar o próprio criador. Não logrou êxito, e é isso que
emputece Lula. Hoje, ambos rumam para um abraço de afogados. Dilma está à
beira de deixar o comando do País, alvo de um processo de impeachment, e
na iminência de ser investigada pelo crime de obstrução de justiça – a
solicitação, feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na
semana passada, depende apenas do aval do STF. Ele, Lula, enfrenta o
mais tenebroso inverno de sua trajetória pública. Atingido em cheio pela
Lava Jato, o ex-presidente nunca esteve tão próximo de voltar à cadeia.
Em 1980, o então líder sindical foi detido em sua residência pelo
DOPS, a polícia política do regime militar. Permaneceu preso por 31
dias, chegando a dividir cela com 18 pessoas. Agora, o risco de outra
prisão – desta vez em tempos democráticos e por um temporada
provavelmente mais longa – é iminente.
São pelo menos sete frentes de investigação contra Lula, na primeira
instância e na Suprema Corte. Lula é acusado de liderar o comando da
quadrilha, que desviou milhões da Petrobrás, participar da tentativa de
comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró, ex-diretor da estatal,
obstruir a Justiça ao ser nomeado na Casa Civil para ganhar foro
privilegiado, receber favores de empreiteiras ligadas ao Petrolão em
reforma de um sítio em Atibaia, frequentado pela família; ocultar
patrimônio e lavar dinheiro por meio de um apartamento tríplex no
Guarujá, – que Lula jura não ser dele – , e de receber dinheiro de
propina, por meio de empreiteiras, por palestras realizadas no Brasil e
no exterior.
Além disso, ele ainda pode ser encrencado na Operação Zelotes, que
apura suspeita de venda de medidas provisórias com suposto
beneficiamento de seu filho Luís Cláudio Lula da Silva. No pedido para
incluir Lula no chamado inquérito-mãe da Lava Jato, Janot foi
contundente ao dizer que o petista foi peça-chave no esquema: “Essa
organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de
uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o
ex-presidente Lula dela participasse”. O procurador-geral da República
também denunciou o ex-presidente, com base na delação do senador
Delcídio do Amaral, – revelada com exclusividade por ISTOÉ – por
participar da trama para tentar comprar o silêncio do Néstor Cerveró,
ex-diretor da Petrobras envolvido nas traficâncias da estatal. Um total
de R$ 250 mil teria sido repassado pelo filho do pecuarista e amigo do
ex-presidente, José Carlos Bumlai, Maurício Bumlai, para o advogado de
Cerveró. A procuradoria identificou, entre outros elementos contra o
petista, um e-mail que comprova um agendamento de reunião entre Lula e
Delcídio no dia 8 de maio do ano passado no Instituto Lula, além de uma
passagem aérea provando que ele viajou naquela data. Disse Delcídio a
respeito do encontro: “Fui chamado por Lula, em meados de maio de 2015,
em São Paulo para tratar da necessidade de se evitar que Néstor Cerveró
fizesse acordo de colaboração premiada com o Ministério Público
Federal”, disse o parlamentar. Mas o que mais atormenta Lula é o pedido
formal de prisão preventiva, formulado pelo Ministério Público de São
Paulo no caso da compra do tríplex do Guarujá, hoje nas mãos do juiz
Sérgio Moro. Segundo apurou ISTOÉ junto a fontes da Lava Jato, Moro
aguarda apenas o afastamento de Dilma na quarta-feira 11 para se
debruçar sobre o pedido de prisão.
O juiz não queria analisar o caso antes do encerramento do imbróglio
jurídico envolvendo a nomeação de Lula no STF. Com a saída de Dilma esta
semana, o mandado de segurança em discussão no Supremo perde objeto e o
caminho para uma possível prisão de Lula estará aberto. Caso seja
novamente preso ou mesmo vire réu no Supremo, algo inédito para uma
figura política de sua estatura, os estragos políticos serão
irreparáveis. A mácula indelével abreviaria sua carreira pública de
maneira inequívoca e sepultaria eventuais chances de retorno à
Presidência em 2018. A morte política do seu maior líder decretaria o
fim do PT.
Os primeiros indícios do envolvimento do ex-presidente Lula no
Petrolão surgiram com os depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Após firmar
acordo de colaboração com o Ministério Público Federal no segundo
semestre de 2014, Costa e Youssef detalharam aos investigadores no
Paraná como funcionava a quadrilha que agia na estatal. Ambos fizeram
menção a Lula, declarando acreditar que o Palácio do Planalto, o que
incluiria o ex-presidente, tinha conhecimento das irregularidades. A
dupla não dispunha de provas contra o petista, mas forneceu informações
cruciais para que a força-tarefa da Lava-Jato avançasse sobre as
empreiteiras envolvidas no escândalo. Batizada de Juízo Final, essa fase
da operação confirmou que as acusações de Costa e Youssef procediam. Ao
quebrar o sigilo da Camargo Corrêa, uma das empreiteiras investigadas,
as autoridades descobriram valores significativos transferidos à LILS, a
empresa da qual Lula é sócio e pela qual promove suas palestras. Outras
construtoras envolvidas no Petrolão também transferiram milhões de
reais ao ex-presidente, um soma superior a R$ 10 milhões entre 2011 e
2015. Embora o ex-presidente tenha negado irregularidades nos valores
recebidos das companhias, a Polícia Federal e o Ministério Público
passaram a esquadrinhar tais repasses. Trabalham com a tese de que os
valores recebidos por Lula seja dinheiro de corrupção. Essa apuração
está em curso tanto em Brasília quanto em Curitiba. No Paraná, os
investigadores estão fazendo uma comparação entre os valores repassados
pelas empreiteiras à LILS e pedindo para que elas apresentem documentos
que comprovem a realização das tais palestras. A Andrade Gutierrez foi a
única que conseguiu provar todas. As outras empresas não foram bem
sucedidas nesse intento. Entre as pontas soltas está uma suposta
apresentação do ex-presidente na Venezuela, ainda sem comprovação, o que
complica a defesa do petista.
Outra frente de problemas para o morubixaba petista é a investigação
sobre o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, no interior de São Paulo. Há
fortes indícios de que as construtoras Odebrecht e OAS pagaram pela
reforma com dinheiro desviado da Petrobras, configurando, nesse caso,
crime de corrupção. O terreno está em nome de dois sócios de Fábio Luís
Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do Lula. Há uma série de
indicativos de que o verdadeiro dono seja o ex-presidente. Conforme
apurou ISTOÉ, a confirmação poderá vir da delação premiada do executivo
da Odebrecht, Alexandrino Alencar. No roteiro da delação, Alexandrino
prometeu entregar detalhes e provas que incriminariam Lula. A
expectativa é que os executivos da OAS também colaborem sobre o mesmo
tema.
Assim como o sítio de Atibaia, a força-tarefa da Lava-Jato no Paraná
analisa denúncia feita pelo Ministério Público de São Paulo contra Lula
no que concerne ao tríplex no Guarujá. Os promotores acusam o petista de
lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Para a MP, a família Lula
era a proprietária, de fato, do imóvel. No papel, o apartamento pertence
à empreiteira OAS, envolvida no Petrolão. O MP desmontou os argumentos
do ex-presidente de que teria apenas uma cota de outra unidade no
prédio. Entre as provas apresentadas pelos promotores estão relatos de
funcionários e ex-moradores que confirmam que a ex-primeira-dama Marisa
Letícia, Lula e um dos filhos do casal vistoriaram as reformas do
imóvel. Obras que custaram mais de R$ 700 mil. Pagas pela OAS e feitas
ao gosto da família Lula. Chamou a atenção das autoridades que uma das
visitas ao apartamento foi acompanhada pelo presidente da OAS, Leo
Pinheiro. O executivo chegou a ser preso no Petrolão e negocia acordo de
delação premiada. O caso estava sob a responsabilidade da juíza Maria
Priscilla Ernandes, da 4ª Vara Criminal de São Paulo, mas na semana
passada, o inquérito foi remetido ao juiz Moro, incluindo o pedido de
prisão preventiva contra Lula formulado pelo MP paulista.
Um pedido como este nas mãos do ágil juiz Sérgio Moro era tudo o que o
Dilma e Lula tentaram evitar a todo custo. A ponto de ensejar sobre
eles uma possível investigação pelo crime de tentativa de obstrução do
trabalho da Justiça. A linha de investigação leva em consideração o ato
de nomeação do ex-presidente para a Casa Civil, iniciativa cujo único
propósito foi o de livrar o petista da competência do juiz de Curitiba.
Foi um duplo tiro no pé. Agora, além de Lula ser alvo de um pedido de
investigação por tentar atrapalhar o trabalho da Justiça, crime
tipificado na Constituição no inciso 5 do artigo 6º da Lei 1.079/1950, o
destino político do ex-presidente está definitivamente nas mãos do seu
principal algoz.
Texto e foto: Diário do Poder
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