Planalto teme reação de Eduardo Cunha
Interlocutores de Temer tentam reforçar o discurso de que o tema pertence ao Legislativo, mas admitem que há receio do "poder explosivo" do presidente afastado da Câmara, cuja cassação foi aprovada pelo Conselho de Ética.
A aprovação do pedido de cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética ampliou o clima de cautela no Palácio do Planalto. Interlocutores do presidente em exercício Michel Temer tentam reforçar o discurso de que o tema pertence ao Legislativo e não ao Executivo, mas admitem que há receio do “poder explosivo” do presidente afastado da Câmara.
Depois da votação, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, esquivou-se de falar sobre o assunto. “Prefiro não comentar. Esse é um assunto da Câmara”, disse Geddel. Mais cedo, em agenda no Rio, o próprio Temer declarou que o Executivo não interferiria nos demais Poderes e que, ao assumir interinamente a Presidência, pregou a “reconstitucionalização” do País. “É preciso acabar com o Executivo se meter nas coisas do Legislativo e do Judiciário”, afirmou.
Apesar da tentativa de deixar esse assunto “do outro lado da rua”, um
aliado de Temer que esteve no Planalto após o resultado demonstrava
claramente a sua preocupação com Cunha. “Essa conta vai ser alta. Ele
não vai cair sozinho”, disse.
Ainda não se tem a exata dimensão de como esse primeiro momento pós
aprovação da cassação de Cunha no Conselho de Ética poderá interferir
nas votações das medidas econômicas que Temer está encaminhando à
Câmara, consideradas “cruciais” para o governo interino.
Proximidade
Apesar da tentativa de Temer se manter “neutro” quanto à situação de
Cunha, a relação de todos os peemedebistas com o presidente afastado da
Câmara é muito próxima. Embora Temer não esteja se encontrando com
Cunha, como acontecia antes, vários interlocutores fizeram esse papel.
Geddel, por exemplo, chegou a visitá-lo, dias depois de ele ser afastado
pelo Supremo Tribunal Federal e um dia antes da leitura do parecer pela
cassação do deputado no Conselho de Ética. Sempre houve solidariedade
implícita ao peemedebista e nos bastidores sabe-se que o Planalto, de
alguma forma, trabalhou para protegê-lo. “Não há alívio, mas sim
lamento”, observou um assessor palaciano.
Com o avanço das investigações da Operação Lava Jato e o cerco se
fechando contra Cunha também criou-se um temor de que, como vingança,
ele possa “sair atirando”, atingindo o próprio Temer. No pedido de
afastamento de Cunha do mandato e da presidência da Câmara, o ministro
do STF Teori Zavascki transcreveu mensagens por celular entre o deputado
e o empreiteiro Léo Pinheiro, sócio da construtora OAS. Uma delas fala
de um certo “Michel” que teria sido contemplado com R$ 5 milhões pelo
empreiteiro. Para os investigadores da Lava Jato, é uma referência a
Temer.
No entanto, não há nenhuma investigação contra o presidente em
exercício. A assessoria de Temer justifica a citação a uma “doação
eleitoral declarada dentro da prestação de contas da candidata Dilma
Rousseff, na conta Michel Temer 2014” no valor exato de R$ 5 milhões e
na qual não “há nenhuma ilegalidade ou ilícito”.
Surpresa
Há relatos de que houve surpresa no Planalto com o posicionamento do
deputado Wladimir Costa (SD-PA), que todos consideravam voto certo
contra a cassação do peemedebista, e com o voto considerado decisivo da
deputada Tia Eron (PRB-BA). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Texto: Revista Isto É
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