A MORTE E A MORTE DE TEORI ZAVASCKI
Roubo descaradamente o título da obra de Jorge Amado sobre o
passamento de Quincas Berro D’Água para tecer considerações a respeito
do acidente aéreo que resultou na morte do catarinense/gaúchoTeori
Zavascki, ministro relator do processo da Lava Jato no STF.
A morte é um acontecimento fortuito ou anunciado. As pessoas morrem,
subitamente, por inesperada causa interna, ou acidente; e morrem ,
previsivelmente, quando acometidas por moléstias que conduzem a tal
desfecho. O que acende tantas luzes de advertência em relação à morte de
Teori Zavascki é saber o quanto ela atende à conveniência de verdadeira
multidão de pessoas sem escrúpulos, que praticaram graves, continuados e
comprovados crimes, com a finalidade de roubar a nação. A trágica morte
de Teori Zavascki, então, sai dos padrões da normalidade e se torna um
caso a exigir meticulosa investigação. A clássica pergunta que comparece
a tantos inquéritos em que se busca a autoria do crime na persecução
penal - a quem isso é proveitoso? - leva a algumas centenas de
prontuários. A morte de Teori pode beneficiar muita gente, em diferentes
graus de conveniência. Até que se concluam as perícias técnicas, as
causas do acidente permanecerão envoltas em incertezas. Mas a morte de
Teori não extingue a colossal tarefa que lhe fora confiada, para
desconforto de tantos. Quando o STF acelerava o passo, a fatalidade ou o
crime deram-lhe um tranco.
Por outro lado, sempre há outro lado, o infortúnio coloca nas mãos de
Michel Temer oportunidade talvez única de desanuviar inteiramente,
perante a opinião pública, sua relação com a Lava Jato. Do perfil que
tiver o jurista escolhido por ele para suprir a vaga, muito se poderá
deduzir. Sob certas condições, até nomes sugeridos e refugados ficarão
sujeitos a especulações. Nessa, ou Michel Temer acerta e se conserta ou
erra e se enterra.
Pessoalmente, não dou sugestões. No entanto, espero que o presidente
indique alguém que, além da imprescindível formação jurídica – aquela
que se define como notório saber – e da idoneidade moral, destoe do
realejo “progressista”, “politicamente correto” e esquerdista em
variados graus que assinala a atual formação do plenário daquela Corte. O
tom monocromático que o STF adquiriu após um quarto de século de
indicações feitas por governos de esquerda e centro-esquerda conspira
contra a democracia. Cria graves desacertos com o parlamento. Induz o
STF a invadir competências do Congresso. Põe a Corte em grave
contradição com bem identificada vontade nacional numa série de pautas
face às quais a sociedade se foi tornando crescentemente liberal e/ou
conservadora. Esse desajuste no qual a sociedade vai para um lado e o
STF para outro, responde pela grave desconfiança de tantos em relação à
real disposição do STF para cumprir seu dever no julgamento de casos de
corrupção.
Esperemos que Temer se afine com a ministra Carmem Lúcia, presidente
da Corte, que não hesitou em avocar a si, imediatamente, a vacante
relatoria da Lava Jato. A situação é bem maniqueísta. Ou se está com o
bem, ou se está com o mal.
Publicado inicialmente no: Diário do Poder
Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites
no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo
Pensar+.
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