Poeta Dedé Monteiro
O lixo atapeta o chão,
Um caminhão se balança;
Quem vem de fora se lança
Em cima do caminhão;
Um ébrio esmurra o balcão
No botequim da esquina;
O gari faz a faxina,
Um cego ensaca a sanfona,
E um vendedor dobra a lona
Depois que a feira termina.
- - - x - -
Miçanga, fruta, verdura,
Milho, feijão e farinha,
Bode, suíno, galinha,
Miudeza, rapadura;
É esta a imagem pura
De uma feira nordestina
Que começa pequenina,
Dez horas não cabe o povo;
E só diminui de novo
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
Na matriz que nunca fecha,
Muito apressado entra alguém
Mas sai vexado também,
Se não o carro lhe deixa;
O padre gordo se queixa
Do calor que lhe domina,
E agita tanto a batina
Que quem vê fica com pena;
Toca o sino pra novena
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
A filhinha do mendigo
Sentada a seus pés, num beco,
Comendo um pão doce seco
Diz: papai, coma comigo.
E o velho pensa consigo
- Meu Deus, mudai sua sina
Pra que minha pequenina
Não sofra o que eu sofro agora;
Ri a filha, o velho chora
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
Um pedinte se levanta
Da beira de uma calçada,
Chupando uma manga espada
Pra servir de almoço e janta;
Um boi de carro se espanta
Se o motorista buzina;
Um velho fecha a cantina,
Um cachorro arrasta um osso,
E o pobre “asavessa” o bolso
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
Um camponês se engana,
Chega atrasado na feira,
Não compra mais macaxeira,
Nem batata, nem banana;
Empurra a cara na cana
Pra esquecer a ruína;
Arroz, feijão, margarina,
Açúcar, óleo, salada,
Regressa e não leva nada
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
No açougue da cidade
Das cinco e meia em diante,
Não tem um pé de marchante
Mas mosca tem à vontade;
Um faxineiro abre a grade,
Tira uma mangueira fina,
Rodo, pano, creolina,
Deixa tudo uma beleza
Mas só começa a limpeza
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
E o dono da miudeza
Já tendo fechado a mala,
Escuta o rapaz que fala
Do outro lado da mesa:
- Meu senhor, por gentileza,
O senhor tem brilhantina?
Ele diz com voz ferina:
- Aqui na mala ainda tem
Mas eu não vendo a ninguém
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
Um jumento estropiado,
Magro que só a desgraça,
Quando vê que a feira passa,
Vai pra frente do mercado;
O endereço ao danado
Eu não sei quem diabo ensina;
Eu só sei que baixa a crina
Entre as cinco e as cinco e meia
Lancha, almoça, janta e ceia
Depois que a feira termina.
Um caminhão se balança;
Quem vem de fora se lança
Em cima do caminhão;
Um ébrio esmurra o balcão
No botequim da esquina;
O gari faz a faxina,
Um cego ensaca a sanfona,
E um vendedor dobra a lona
Depois que a feira termina.
- - - x - -
Miçanga, fruta, verdura,
Milho, feijão e farinha,
Bode, suíno, galinha,
Miudeza, rapadura;
É esta a imagem pura
De uma feira nordestina
Que começa pequenina,
Dez horas não cabe o povo;
E só diminui de novo
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
Na matriz que nunca fecha,
Muito apressado entra alguém
Mas sai vexado também,
Se não o carro lhe deixa;
O padre gordo se queixa
Do calor que lhe domina,
E agita tanto a batina
Que quem vê fica com pena;
Toca o sino pra novena
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
A filhinha do mendigo
Sentada a seus pés, num beco,
Comendo um pão doce seco
Diz: papai, coma comigo.
E o velho pensa consigo
- Meu Deus, mudai sua sina
Pra que minha pequenina
Não sofra o que eu sofro agora;
Ri a filha, o velho chora
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
Um pedinte se levanta
Da beira de uma calçada,
Chupando uma manga espada
Pra servir de almoço e janta;
Um boi de carro se espanta
Se o motorista buzina;
Um velho fecha a cantina,
Um cachorro arrasta um osso,
E o pobre “asavessa” o bolso
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
Um camponês se engana,
Chega atrasado na feira,
Não compra mais macaxeira,
Nem batata, nem banana;
Empurra a cara na cana
Pra esquecer a ruína;
Arroz, feijão, margarina,
Açúcar, óleo, salada,
Regressa e não leva nada
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
No açougue da cidade
Das cinco e meia em diante,
Não tem um pé de marchante
Mas mosca tem à vontade;
Um faxineiro abre a grade,
Tira uma mangueira fina,
Rodo, pano, creolina,
Deixa tudo uma beleza
Mas só começa a limpeza
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
E o dono da miudeza
Já tendo fechado a mala,
Escuta o rapaz que fala
Do outro lado da mesa:
- Meu senhor, por gentileza,
O senhor tem brilhantina?
Ele diz com voz ferina:
- Aqui na mala ainda tem
Mas eu não vendo a ninguém
Depois que a feira termina.
- - - x - - -
Um jumento estropiado,
Magro que só a desgraça,
Quando vê que a feira passa,
Vai pra frente do mercado;
O endereço ao danado
Eu não sei quem diabo ensina;
Eu só sei que baixa a crina
Entre as cinco e as cinco e meia
Lancha, almoça, janta e ceia
Depois que a feira termina.
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