"COISA LINDA"
DEPOIS DO FIASCO HENRIQUE MEIRELES (MINISTRO DA FAZENDA DO GOVERNO MICHEL TEMER - PMDB) QUER MAIS IMPOSTOS
Quando a crise política do governo Michel Temer se encontra no fundo
do poço, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles resolve dar uma nova
demonstração de fidelidade absoluta aos mercados e volta a falar em
elevar impostos para garantir que os compromissos bilionários com o
sistema financeiro serão honrados de qualquer maneira.
Há duas semanas, diante da queda de em alta velocidade nas receitas
públicas -- que jamais poderia equilibrar-se sob a recessão cavalar que
o país atravessa -- a equipe econômica governo foi atrás de recursos no
FGTS. Acabou forçado a recuar, diante de um escândalo que iria acender
novas labaredas de indignação entre os trabalhadores e a população mais
pobre, situação que o Planalto pretende evitar de qualquer maneira numa
conjuntura em que tenta aprovar a reforma trabalhista e a reforma da
Previdência. Mas o governo não desistiu.
"Se for necessário, vamos aumentar impostos," admitiu Henrique
Meirelles, ontem, relançando um alerta que já fez outras vezes. "E eu
repito isso agora de forma ainda mais pertinente."
Fiel a um projeto de Estado mínimo sem paralelo na história
brasileira recente, o governo Temer-Meirelles repete, em versão
tropical, a trajetória de sua madrinha ideológica, Margareth Tatcher,
primeira-ministra inglesa entre 1979-1990.
Empenhada na destruição do Estado de Bem-Estar construído no
pós-guerra durante o governo trabalhista de Clement Attle, Tatcher
acabou comprometendo as próprias fontes de sobrevivência do Estado
britânico. Em busca desesperada de recursos, o governo lançou a Poll
Tax, um imposto destinado a reforçar o caixa das administrações locais,
exauridas por sucessivas medidas de austeridade. Bem ao feitio
conservador, era um imposto regressivo -- uma taxa única paga por todos,
que sacrificava, é claro, as famílias que tem menor renda disponível. O
resultado é História com maiúsculas. Além de boicotar o pagamento da
taxas, população foi a luta por sua abolição. Ocorreram confrontos
violentos com a polícia em bairros populares, enquanto as manifestações
no centro de Londres chegaram a reunir 300 000 pessoas. O reinado de
Tatcher terminou pouco depois. A taxa foi arquivada.
No Brasil de 2017, a responsabilidade da dupla Temer-Meirelles pelo
déficit crescente do Estado é um fato simples de demonstrar. Depois de
cortar os estímulos que fazem a produção aumentar, o governo colhe o que
plantou -- sem consumo, não há receita para arrecadar. Como resolver
isso sem desagradar os credores? Aumentando impostos.
Um aspecto impressionante é que são os bancos públicos -- que
obedecem a orientação do governo -- os principais responsáveis pela
queda do crédito das empresas. De um ano para dá, o estoque de crédito,
que define o total de dinheiro emprestado, sofreu uma queda de 6,4%.
Dois terços dessa redução tem origem nos bancos públicos -- 43% apenas
no BNDES, 23% nas demais estatais. O esforço que levou o país a recessão
foi feito com esforço e disciplina, com indiferença absoluta pelas
consequências -- para as empresas, para o emprego, para a sorte dos
brasileiros.
Em um ano, o crédito dos bancos públicos caiu 7,7%, contra 4,8% nos
privados. No BNDES, criminalizado em tempos de Lava Jato, a queda foi
recorde: 14%. (Folha de S. Paulo, 28/6/2017).
Por trás desse encolhimento do setor público, não se escondem somente
convicções ideológicas. Há um esforço estratégico de reforçar o espaço
do setor privado, numa tentativa de quebrar uma das boas heranças da
política econômica do governo Lula e que poderia ser de grande utilidade
para tirar o país do horror econômico atual.
Na crise de 2008-2009, o Banco do Brasil e a Caixa fizeram um
movimento inverso -- ampliaram o crédito e elevaram a presença no
mercado. Numa conjuntura na qual, de um ano para outro a inadimplência
crescia 48% (em 2008) e 18,8 % (em 2009), as duas instituições foram
atrás de clientes abandonados pelo setor privado. O Banco do Brasil
cresceu 31,5%, a Caixa, 51,4%. O BNDES deu um salto de 140%. Em média, o
setor público deu um salto de 66,7%, para assumir, na época, 49,5% do
crédito disponível Os bancos privados, enquanto isso, caíram de 63,5%
para 49,2%. Essa política permitiu ao país atravessar os primeiros anos
da maior crise do capitalismo em 80 anos. O emprego resistiu e até
cresceu.
Do: Brasil247
Nenhum comentário:
Postar um comentário