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domingo, 3 de dezembro de 2017

HISTÓRIA DO CANGAÇO



Willame César de Araújo (*)

Cristino Gomes da Silva Cleto era seu nome verdadeiro, apelidado de Corisco ou Diabo Louro, nascido no município de Águas Brancas no estado de Alagoas. 
No ano de 1924 foi convocado para o serviço militar obrigatório em Aracajú. Cristino juntamente com alguns colegas de caserna revoltaram-se contra o governo; a rebelião é controlada, sendo ele um dos líderes do movimento, é obrigado a fugir. Anos depois começou a trabalhar nas feiras como camelô. Certo dia estando com sua banca de mercadorias na feira de Vila Nova Rainha, teve um desentendimento com o fiscal da prefeitura, sendo por este denunciado ao delegado Herculano Chaves que tinha sido agredido por um camelô de nome Cristino. Herculano mandou prendê-lo, e também ordenou aos soldados que dessem um corretivo nesse indivíduo. O rapaz apanhou de chibata, da feira até a delegacia.
Quando foi posto em liberdade disse ao delegado: 'O senhor vai me pagar muito caro seu Herculano!' Vendeu tudo que tinha, comprou um rifle, munições e procurou Lampião, por intermédio de um fazendeiro, e passou então a fazer parte do grupo do 'Rei do Cangaço'. Passaram-se anos e mais anos e Corisco não tirava da cabeça a ideia de vingança. Finalmente decorridos uns 10 anos, teve conhecimento que o delegado tinha se aposentado e comprado uma fazenda em determinado lugar do estado. Localizou a propriedade e dirigiu-se à casa do mesmo. Lá foi informado que o fazendeiro tinha ido ao povoado fazer compras. O ex-delegado soube quase de imediato que seu inimigo estava a sua procura e mandou um portador levando 10 contos de réis e um recado dizendo que aquela importância resolveria o problema. O cangaceiro recebeu o dinheiro e armou uma armadilha. Herculano, certo de ter resolvido o caso, montou no seu animal, um burro mulo, e tomou caminho de volta para casa. De repente surgiu a sua frente o "Diabo Louro", armado até os dentes, sádico e zombeteiro; o homem passou a tremer, perdeu a fala e quase cai da montaria. 'Herculano! Você está velho, naquela tempo vosmecê era moço, metido a valentão e bonitão, mas agora vosmecê está velho e acovardado Herculano! Cadê a sua valentia? Lembra de mim? Se prepare para morrer! Tu me fizeste infeliz seu Herculano. Se eu vivo nesta vida desgraçada embrenhado nas matas feito bicho, é por sua causa Herculano!'
Ordenou aos seus comandados que tirassem a roupa da vítima deixando-o totalmente nu. Em seguida, mandou que o amarrassem dependurado de cabeça para baixo, num galho de árvore, em forma de 'x", ou melhor dizendo, como um cabrito. O ex-delegado gritava pedindo clemência, mas Corisco não se alterava. Pegou um canivete e começou a tirar o couro de Herculano começando pelo dedo de um dos pés. Após verificar que o coitado tinha morrido cortou o corpo em vários pedaços e dependurou nos pés de jurema.

Quando Lampião traz Maria Bonita para sua companhia, abre precedente. Corisco não perde tempo, rapta uma menina de 12 anos de nome Sérgia, filha de um fazendeiro, que mais tarde passa a ser chamada de Dadá, mulher valente e inteligente.
Corisco, ou Diabo Louro, foi um dos mais espeitados em virtude da sua valentia e crueldade. Quando tomou conhecimento do massacre de Angicos (AL), onde foram mortos onze cangaceiros, dentre eles Lampião e Maria Bonita, e que todos foram decapitados pela volante do tenente João Bezerra, sua vingança veio logo em seguida. Mata e decapita seis inocentes, pensando ter sido o velho Domingos quem denunciou o esconderijo de Lampião. As cabeças do ancião e mais cinco de seus familiares, foram colocadas num saco e enviadas por ordem dele ao tenente João Bezerra.
Depois da morte do capitão Lampião, o Rei do Cangaço, passa a ser o príncipe dos bandoleiros. Corisco, que apesar de ser valente tanto quanto Virgulino não tinha a inteligência e a estratégia do vesgo do Pajeú. O cangaço entrou em decadência; muitos dos seus ex-comandados e companheiros estavam se entregando. Corisco pensa também em procurar a polícia e se apresentar, mas sua mulher Dadá impede-o de tomar tal atitude. Resolveram deixar o sertão e seguiram em direção do estado do Mato Grosso, mas o tenente José Rufino não dá trégua; não deixa o casal sossegar e sabe do paradeiro deles, denunciado por um ex-cangaceiro conhecido como Velocidade, que demonstrando mais ainda sua covardia avisa ao tenente que o atual rei do cangaceiros estava aleijado dos dois braços. O tenente desloca-se com sua volante para o lugar chamado Barra dos Mendes, alcança o casal, mata Corisco, enquanto baleia sua companheira Dadá, na perna  que é amputada em consequência do ferimento.
Naquele 25 de maio de 1940, morria Cristino Gomes da Silva Cleto, Corisco ou Diabo Louro, e com ele também desaparecia o Cangaço, só reaparecendo décadas depois, com outro nome: CRIME ORGANIZADO.
Sérgia, ou Dadá, faleceu em 1994 com 77 anos de idade, em Salvador - Bahia.
Corisco, apesar de cruel e valente, era também muito religioso "ao seu modo". Deu seu filho ao padre José Hermano Bulhões, de Santa do Ipanema - AL, para criá-lo. Seu nome: Sílvio Hermano Bulhões.
Eis o texto da carta que enviou ao sacerdote quando da doação do filho: 'Padre, receba nosso filhinho. A madrinha dele é Nossa Senhora e o padrinho é o senhor mesmo.
Assina: Cristino Gomes da Silva Cleto e Sérgia Gomes da Silva.

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(*) Transcrito do livro: O NORDESTE - IMPERADORES E IMPERATRIZES DO SERTÃO, de autoria do escritor Willame César de Araújo. Impresso na Gráfica Vilar - Parelhas (RN).

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