EDITORIAL - 03/04/2018
Quando o STF derrubar amanhã
a prisão de condenados em segunda instância, para subjetivamente salvar Lula e
todos os outros poderosos corruptos fisgados pela Lava Jato, a democracia
também será derrubada no plano subjetivo.
A derrubada subjetiva da democracia
significa que os cidadãos deixarão de acreditar nela como o melhor regime
político — ou o pior, salvo todos os outros já tentados na história humana,
como disse Winston Churchill. Porque é preciso entender que a maior parte das
pessoas não tem convicções democráticas irremovíveis, mas certa crença na
democracia.
Como qualquer crença, ela se
baseia numa relação de custo e benefício existencial e material. Há tempos,
infelizmente, essa relação no Brasil vem se mostrando muito desvantajosa tanto
no cotidiano como no terreno das instituições — e, depois que a farsa no STF
chegar ao seu final, com a libertação do chefão condenado, é fácil presumir que
milhōes de cidadãos abandonarão o que lhes resta da crença no sistema
representativo que resultou em tanta calhordice, pobreza, criminalidade e falta
de perspectivas.
Estará aberto, assim, o
caminho para a derrubada objetiva da democracia. E não adiantará lembrar que,
durante o regime militar, o Brasil não era o paraíso na Terra (e, meninos, não
era mesmo), porque a descrença no presente maquia o passado e o renova como
futuro falsamente salvador, um credo substituindo o outro.
O presente grita que não há
juízes em Brasília, não há presidente em Brasília, não há ministros em
Brasília, não há parlamentares em Brasília, as exceções enfatizando a falta. Há
profissionais da vantagem pessoal que, pegos pela Lava Jato, usam da democracia
consumida em carcaça, após quinze anos de maus-tratos, para escudar-se da
devida punição legal.
A carcaça da democracia fede
como nunca. Não serão poucos a querer encobrir o fedor com o cheiro da pólvora
dos canhões. Serão poucos a crer na ressurreição da carcaça por meio do voto em
outubro.
Triste país.
Que este vaticínio quanto ao
julgamento no STF se mostre errado.
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