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segunda-feira, 5 de julho de 2010

ARTIGO DO JORNALISTA WALTER MEDEIROS

- FESTEJOS -

Um dos aspectos mais citados nos ambientes de tratamento do alcoolismo
é que os dependentes do álcool bebem por qualquer motivo. Bebem porque
estão felizes, bebem porque estão tristes, bebem porque o time ganhou,
bebem porque o time perdeu, bebem porque tiveram uma raiva, bebem
porque tiveram uma conquista, e assim por diante. Ao que parece,
trata-se, na verdade, de um indicador que pode ser estudado e
certamente resultará em resposta muito interessante sobre o
comportamento dos bebedores-problemas.
Vale lembrar aqui o Capítulo XII do livro O Pequeno Príncipe, de
Antoine de Saint-Exupery, no qual o principezinho, como chamam os
portugueses, dialoga com um bêbado que encontrou em um dos planetas
que visitou, após o que mergulhou numa profunda melancolia: ?- Que
fazes ai? perguntou ao bêbado, silenciosamente instalado diante de uma
coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias. - Eu
bebo, respondeu o bêbado, com ar lúgubre. - Por que é que bebes?
perguntou-lhe o principezinho. - Para esquecer, respondeu o beberrão.
- Esquecer o quê? indagou o principezinho, que já começava a sentir
pena. - Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a
cabeça. - Vergonha de quê? investigou o principezinho, que desejava
socorrê-lo. Vergonha de beber! concluiu o beberrão, encerrando-se
definitivamente no seu silêncio. E o principezinho foi-se embora,
perplexo. As pessoas grandes são decididamente muito bizarras?, dizia
de si para si, durante a viagem, o principezinho.
Pois para esquecer ou para lembrar, observamos nesta sexta-feira os
bares, botecos, restaurantes, quiosques e calçadas por aonde passamos,
duas horas depois do fim do jogo do Brasil com a Holanda e tivemos uma
forte impressão de vazio. Houvesse o Brasil ganho o jogo, certamente
aqueles espaços estariam ocupados com pessoas festejando e bebendo.
Seriam pessoas que têm e pessoas que não têm (os que não têm são a
maioria, cerca de 80%) problema com a bebida alcoólica. Estariam
festejando justamente o que teria sido uma grande conquista. A
conquista não veio e a maioria ficou em casa ou foi para casa, se
estava fora. O fato é que a bebedeira ficou por conta somente de quem
já tinha começado a beber ou aqueles que realmente bebem por qualquer
motivo e até os cria, se não os têm.
O infortúnio brasileiro na Copa do Mundo parece que foi um baque nos
?guerreiros? (Principalmente Dunga e Luiz Fabiano), que faziam
propaganda de bebida alcoólica, bebida esta que, aliás, anunciava como
patrocinadora oficial da Seleção Brasileira. Ao que parece, a bebida
alcoólica por eles anunciada não teve o condão de levar a nossa
seleção mais adiante. E assim os bares e demais ambientes festivos
ficaram meio vazios, aguardando o fim do verdadeiro luto que se abateu
sobre a nação inteira, que sofre, mesmo não tendo sido esta a primeira
vez que se frustra tanto sonho. Na parede da memória, como diz
Belquior, estão certos jogos nos quais o Brasil deu adeus antecipado
às copas do mundo.
Não pretendo estudar esse assunto especificamente, mas acredito que
pode ser uma boa sugestão para quem estuda o comportamento humano, o
alcoolismo, a saúde mental e outros temas, verificar quem é esse
universo que fica no bar num dia como este de hoje. Para tanto,
poderia até começar com aquelas inocentes perguntas do principezinho,
feliz abordagem daquele grande escritor francês, para documentar essa
realidade tão visível, mas ainda pouco registrada. Um trabalho desses
pode tornar-se uma importante contribuição para o tratamento do
alcoolismo e outras dependências químicas que se alastram Brasil e
Mundo afora, tratados até como algo engraçado pelo repórter da TV
Globo, conforme vimos nas participações que tiveram de Amsterdã.
Naquela capital européia, pelo menos, sabe-se muito bem por que as
pessoas beberam neste dia 2 de julho de 2010.

By Walter Medeiros
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Um comentário:

Anônimo disse...

Do ponto de vista do alcoolismo, acho que não há muito o que estudar não. O "não alcoólatra" bebe em uma circunstância de euforia. Aquele momento exige o consumo de alguma droga que acentue este espírito eufórico e o álcool é a única droga legal ao alcance do cidadão comum! Já o alcoólotra mesmo, bebe por qualquer motivo ou por motivo nenhum a não ser o do próprio vício, a semelhança de quem consume outras drogas não legais.