A avenida Rio Branco fervilhava de gente naquela manhã abafada, enquanto a hora fluía no rumo do almoço.
Aflita em meio ao monte de problemas que enfrentava, Joana seguia em busca do seu futuro, com a filha novinha, Fátima, no braço. Era uma mulher jovem, com seus vinte e cinco anos, mas já muito marcada pela trajetória de vida sofrida, desde que saiu do interior, em busca de melhores dias, e se viu desabrigada pelas ruas da cidade grande, na flor da idade, com seus dezesseis anos.
Viveu nas calçadas, dormindo ao relento, debaixo de papelões, e passou por todas as agressões, violências, privações e humilhações daquela vida.
O companheiro que arranjara a deixou abandonada num quartinho de fundos, sem emprego, sem renda e endividada.
Mesmo assim queria organizar aquela vida, em favor da filha, que passara a ser a sua maior razão de viver.
Seu rosto, de beleza escondida pela falta de cuidados, mostrava, mesmo assim, uns traços que, outra sorte tivesse, estaria mundo afora em alguma passarela. E Fátima, a filhinha, talvez até figurasse em meio àqueles bebês das revistas especializadas.
No entanto, a cada hora chorava de fome. O suor descia naquela semblante entristecido, enquanto seu olhar percorria a fachada dos grandes edifícios, em busca da repartição onde sonhava encontrar um lugar para morar, oferecido pela prefeitura.
Amava a terra onde nasceu, mas uma seca a deixara na orfandade.
Não estudou, embora tivesse adquirido uma visão natural do mundo, capaz de fazê-la consciente de direitos e deveres individuais e sociais. Além de aspirar um dia um cantinho para morar, no qual pudesse cuidar da família, onde tivesse o que comer e cultivasse algumas plantas. Havia cuidado de um pedacinho de roça e guardava consigo as imagens coloridas das roseiras. Ficava feliz sempre que sentia o cheiro da terra molhada e das plantas manipuladas pelos jardineiros, nas casas e nos canteiros da cidade.
Esboçando a sua revolta com a própria miséria, chega ao birô no qual os funcionários demonstram solidariedade e interesse em resolver seu problema. Coisa comum em serviços públicos, mas o que chega ao público normalmente são as reações dos que atendem mal, o que não era o caso.
É informada de que estão esgotadas as ofertas. Desesperada, com a filhinha no braço, chora e faz um último apelo por uma casa própria.
Ao seu lado, uma mulher é contemplada e outra fica à espera. Joana segue com a filha pela calçada, enquanto na rua o trânsito flui loucamente naquela ambiente, caos crescente, de cidade grande.
Mal sai para a rua, chega a notícia de que duas novas casas foram garantidas: um funcionário sai para chamar a pretendente e dar-lhe a boa notícia. Não consegue, porque Joana já havia se jogado debaixo de um carro com a filhinha.
Era 21 de agosto; dia da habitação.
Texto: Jornalista Walter Medeiros
Aflita em meio ao monte de problemas que enfrentava, Joana seguia em busca do seu futuro, com a filha novinha, Fátima, no braço. Era uma mulher jovem, com seus vinte e cinco anos, mas já muito marcada pela trajetória de vida sofrida, desde que saiu do interior, em busca de melhores dias, e se viu desabrigada pelas ruas da cidade grande, na flor da idade, com seus dezesseis anos.
Viveu nas calçadas, dormindo ao relento, debaixo de papelões, e passou por todas as agressões, violências, privações e humilhações daquela vida.
O companheiro que arranjara a deixou abandonada num quartinho de fundos, sem emprego, sem renda e endividada.
Mesmo assim queria organizar aquela vida, em favor da filha, que passara a ser a sua maior razão de viver.
Seu rosto, de beleza escondida pela falta de cuidados, mostrava, mesmo assim, uns traços que, outra sorte tivesse, estaria mundo afora em alguma passarela. E Fátima, a filhinha, talvez até figurasse em meio àqueles bebês das revistas especializadas.
No entanto, a cada hora chorava de fome. O suor descia naquela semblante entristecido, enquanto seu olhar percorria a fachada dos grandes edifícios, em busca da repartição onde sonhava encontrar um lugar para morar, oferecido pela prefeitura.
Amava a terra onde nasceu, mas uma seca a deixara na orfandade.
Não estudou, embora tivesse adquirido uma visão natural do mundo, capaz de fazê-la consciente de direitos e deveres individuais e sociais. Além de aspirar um dia um cantinho para morar, no qual pudesse cuidar da família, onde tivesse o que comer e cultivasse algumas plantas. Havia cuidado de um pedacinho de roça e guardava consigo as imagens coloridas das roseiras. Ficava feliz sempre que sentia o cheiro da terra molhada e das plantas manipuladas pelos jardineiros, nas casas e nos canteiros da cidade.
Esboçando a sua revolta com a própria miséria, chega ao birô no qual os funcionários demonstram solidariedade e interesse em resolver seu problema. Coisa comum em serviços públicos, mas o que chega ao público normalmente são as reações dos que atendem mal, o que não era o caso.
É informada de que estão esgotadas as ofertas. Desesperada, com a filhinha no braço, chora e faz um último apelo por uma casa própria.
Ao seu lado, uma mulher é contemplada e outra fica à espera. Joana segue com a filha pela calçada, enquanto na rua o trânsito flui loucamente naquela ambiente, caos crescente, de cidade grande.
Mal sai para a rua, chega a notícia de que duas novas casas foram garantidas: um funcionário sai para chamar a pretendente e dar-lhe a boa notícia. Não consegue, porque Joana já havia se jogado debaixo de um carro com a filhinha.
Era 21 de agosto; dia da habitação.
Texto: Jornalista Walter Medeiros
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