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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

UMA HISTÓRIA DO CANGAÇO

- MARIA BONITA -
         Eduardo Barbosa

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- Sarve-se quem pudé! Os cangacero vem aí!
- Cruz! Credo! Ave Maria!
- É Lampião, minha gente, não tenham medo!
- É o nosso protetor!
- Com um home desses eu ia inté o fim do mundo...
- Não diga isso, Maria Déia, que os cangacero pode ouví... Eles tem "coeitero" por todo canto.
- Eu queria podê dizê ao próprio Capitão. Infelizmente, ele vem sempre ao nosso povoado, mas nunca me pois os óio em riba...
-  Não vá arranjar sarna prá se coçar, Maria. Dispois, o Zé é muito bão pra vosmicê...
- Ora, o Zé é um bão marido, mas é muito parado. Só sabe remendar sapato... Mas Lampião... esse não! Esse é um home macho, mesmo. Não dá bola pras volante que esgravatam o sertão de ponta a ponta atrais dele e todos os coroné o respeita. As ôtoridades também. Qué sabê de uma coisa, cumade Rosa? Se Lampíão me quisesse, eu inté deixava o Zé...
- Cuidado, Maria, cuidado!... óia que Lampião pode sabê disso e vim aqui buscá você. E o Zé, como vai se arranjar!...
- Isso é lá com ele, cumade Rosa, purquê se Lampiõ me quisesse, eu deixava tudo e ia mesmo pro cangaço...
Nem Maria Déia, nem a comadre Rosa perceberam que havia alguém interessadíssimo na conversa. Era Sereno, um dos cabras de Lampião, que ali estava para sondar se havia alguma volante escondida na povoção. Disfarçadamente, seguiu Maria Déia até sua casa, que também servia de oficina de sapateiro para o marido dela. Depois partiu ao encontro de Lampião, que o aguardava nas proximidades da povoação com todo o bando.
- Então, Sereno, quais são as novidades?
- Num tem volante no povoado não Capitão. Tá tudo carminho... Mas eu iscutei uma conversa interessante a seu respeito...
- Cunversa? A meu respeito?... De quem?...
- De uma muié, Capitão... De uma muié que é uma buniteza de muié...
- Que muié é esta? E o que é que ela falô a meu respeito?...
- Ela se chama Maria Déia. É a muié do sapateiro. Aquele mesmo que lhe recomendou as sandáia noutro dia...
- Muié do Zé?... nunca a ví... Nem mesmo sabia que o Zé tinha muié. Ela é bunita mesmo?...
- Nem queira sabê, Capitão. Parece uma santa... é bunita como a peste! E qué sabê de uma coisa? Está caidinha pelo Capitão... Eu ouví ela falá...
- O que ´que tu ouviste, cabra?
- Ouví ela dizê que o Capitão é o maió home do sertão. E que, se o Capitão quisesse, ela largava o Zé e vinha pro cangaço.
- Ela disse isso?
- Disse... Capitão... E óia: ela qué ser sua muié! E é bunita, Capitão, muito bunita...
- Home! Vou sozinho ao povoado ver essa muié! Já tô interessado nela...

E Lampião, montando num burrico, dirigiu-se para o povoado. Queria ver com o seu olho (tinha um olho cego), que mulher era aquela que tanto o admirava e que não termia o cangaço, a ponto de não esconder a sua admiração pelo Rei do Cangaço. Dirigiu o burrico até uma casa onde se lia na parede, em letras rústicas: "Zé sapateiro".  Sem desmotar e tomar conhecimento do delegado e do povaréu que o fitavam respeitosmente, ficou olhando para Maria Déia, que ajudava o marido na oficina. Depois falou:
- É vancê a muié que disse que me acompanhava?
- Sou eu, sim.
- E não mudou  de opinião, agora?
- E por que ia mudar de opinião, agora?
- Lampião sorriu. O amor entrara-lhe violentamente pelo peito a dentro, ante aquela mulher destemida que o fitava apaixonada. O Zé coitado, nem levantou a cabeça. Remendava um sapato e assim continuou.
- Ainda sorrindo,  Lampião disse:
- Vancê é mesma bunita como a peste, muié! Tá disposta a me acompanhá?
- Tou.
- Entonce, Maria vambora. Ou qué que eu te leve?
- Vambora.
E sem mesmo pegar os seus trastes, somente com o vestido vermelho de bolinhas brancas que vestia, Maria Déia estendeu a mão para Lampião e pulou na garupa do burrico.
- Té logo, Zé! - disse ela.
Zé não levantou a cabeça. Não disse nada. E entre as mulheres admiradas e invejosas, e os homens incrédulos, Maria, que era bonita partiu com Lampião para o cangaço. Era o início de um grande romance.
E o Zé, coitado! nem levantou a cabeça...
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Texto retirado do livro 'LAMPIÃO - REI DO CANGAÇO', de autoria de Eduardo Barbosa.

Um comentário:

CorujinhaRN disse...

Amigo Bira, divulgue está matéria em seu blog, é de muita importância

http://www.corujinharn.com/2012/01/populacao-de-santa-cruz-rn-clama-por.html