Recebo do amigo George Stephenson Batista, profundo conhecedor da história das famílias seridoenses, a seguinte 'missiva internetiana':
Grande Bira,
Estou encaminhando para você (anexo) um pouco da biografia do Coronel João Damasceno de Araújo Pereira (Bode Preto) que deixou milhares de decendentes em toda a região do Seridó, principalmente em Acarí, Jucurutu e Currais Novos.
Estou encaminhando para você (anexo) um pouco da biografia do Coronel João Damasceno de Araújo Pereira (Bode Preto) que deixou milhares de decendentes em toda a região do Seridó, principalmente em Acarí, Jucurutu e Currais Novos.
Se lhe interessar coloque em seu Blog. Acho que
seria bem interessante em razão dele ter sido uma pessoa muito poderosa do seu
tempo e hoje é bastante esquecido.
Abraço,
George
Abraço,
George
Caro George: Seu pedido é uma ordem!
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Cel. João Damasceno de Araújo Pereira
Subsídios Genealógicos
e
Coletânea de Fatos da sua Vida
João Damasceno Pereira de Araújo, filho de Antonio Pereira de Araújo, e de Maria José de Medeiros, Antonio, filho por sua vez de João Damasceno Pereira ( 3º filho do 1º Tomaz de Araújo Pereira) e Maria José de Medeiros, filha do 3º Tomaz de Araújo. Casou-se aos quinze anos de idade, tendo sua esposa na época, apenas treze anos. O casamento foi realizado por sugestão do avô de ambos, o velho Tomaz de Araújo Pereira(3º), que já se achando cego, achou por bem casar a neta Tereza, a quem criava.
O Coronel Damasceno morou inicialmente na fazenda
Bulhões, no Acari, localizado na bacia do Gargalheiras. Dirigiu a política
acariense até 1868, quando a transferiu para o seu sobrinho e afilhado, Coronel
Silvino Bezerra de Araújo Galvão, que a exerceu durante toda a sua vida.
Segundo Juvenal Lamartine, o coronel Damasceno foi um belo tipo de sertanejo:
- alto, forte e notável cavaleiro, era muito respeitado, em todo o Seridó, por
suas qualidades de caráter e por sua energia.
A estima que gozava entre os seus
parentes, e o respeito que soube manter junto ao povo durante sua longa vida, o
consagrou como um dos legítimos patriarcas seridoenses. A circunstância de ser
neto de Tomaz de Araújo Pereira, primeiro presidente do Rio Grande do Norte, após proclamada a independência do
Brasil, irmão do Padre Tomaz Pereira de Araújo, Deputado provincial do Rio
Grande do Norte, nos períodos de
1835/37, 1838/39, 1840/41, 1848/49 e 1860/61 e vigário de Acari, durante mais
de sessenta anos, concorreu para firmar seu prestigio, que soube manter por uma
linha de conduta firme e igual, enquanto viveu. Faleceu em 13.11.1908
Nas
Transcrições de fatos relacionados com o coronel Damasceno, observamos uma
particularidade interessante na personalidade dele. Em alguns fatos ele age com
muita rigidez e vigor como era do seu feitio e em outras ocasiões com muita
espiritualidade.
Transcrito do livro de Manoel
Rodrigues de Melo “Patriarcas e Carreiros
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João Damasceno era alto, forte, de força agigantada. Fazendeiro, rico, poderoso, dono de muitas terras, possuindo cabroeira numerosa e organizada, era, no seu tempo, uma das maiores influências políticas no município de Caicó.
Desse patriarca, morador no Saco do Martins, contam-se
coisas fabulosas. Entre outras destacamos a historia do cangaceiro Pereirão.
Perseguido, procurado como um cão sem dono, Pereirão valeu-se do cel.
Damasceno, pedindo-lhe proteção. Damasceno deu-lhe abrigo nas suas
propriedades. Foi não foi Pereirão saía da linha. Terminou sendo despedido. Daí
em diante desandou-se em insultos, pilheriando deus e o mundo. Damasceno soube
e resolveu prende-lo. E foi pessoalmente. Aproximando-se do bandido disse: Oh!
Pereirão! Quando o cangaceiro estendeu-lhe a mão ele atracou. Atracou e
segurou. Dentro de dois minutos Pereirão estava no chão, devidamente amarrado.
Conduzido ao Saco do Martins, foi, depois, levado à cidade do Caicó por homens
de confiança... onde até hoje ainda se espera a sua chegada...
Conta-se que informado certa vez de que a policia
pretendia farejar a sua casa do Saco do Martins, respondeu peremptório: “Diga
ao Alferes que o Saco do Martins só tem uma entrada e não tem por onde sair”.
João Damasceno tinha uma fazenda em Currais-Velhos,
onde vez por outra fazia estada. Um dia estava deitado, quando chega um
comboeiro. – “Coronel, me dê um pedacinho de fumo que venho aqui com um dente
que não agüento”... João Damasceno compreendeu a pilheria... Levantou-se e
disse: - perai... Entrou, pegou um torquez e disse: “mostre o dente”... O cabra
amedrontado, sem dor no dente, abriu a boca e mostrou um dente qualquer. O
Coronel, fazendo finca-pé, arrancou o dente são. Depois, entrou, cortou o
pedaço de fomo e entregou-lhe dizendo: - “pegue cabra, o pedaço de fumo pra
você não andar aqui com mentira”... O “matuto desconfiado com a brincadeira
escafedeu-se na caatinga”.
Inácio da Catingueira veio-o do Brejo, com idade de
20 anos, trazido pelo cavalariano Francisco Pedro de Queiroz, para o Seridó.
Tornando-se muito conhecido pela sua inteligência e presença de espírito.
Gracejador, pilhérico, em tudo punha a sua verve de negro benquisto e estimado.
Catingueira nunca tinha ido à casa do sisudão do Saco do Martins. Passando
certa vez por lá, arranchou-se, armando a sua grande rede de varanda no
alpendre, tendo ao lado a amasia e a viola. Damasceno chegou e encontrou o
negro feito gente no seu alpendre. Catingueira desmanchou-se em agrados e
elogios. Damasceno entrou, agarrou a palmatória grande de miolo de aroeira e
bradou: - “bote a mão aqui, negro”! O negro vacilou. Damasceno, fixando-lhes os
olhos duros gritou para os cabras. O negro obedeceu. Damasceno deu-lhe uma
dúzia de bolos e mandou-o armar a rede na casa do diabo - ... Catingueira
desapareceu do Rio Grande do Norte, indo curtir suas magoas no extremo norte do
país.
SENTE-SE, SEU DOUTOR!
Em um júri em Caicó, em que o réu era pessoa protegida por João Damasceno, o promotor, levantando-se para fazer a acusação, sentiu-lhe cair sobre os ombros duas mãos pesadas que só ferro. E quando tentou levantar-se, pela segunda vez, sentiu, como que lhe caírem dezenas de arrobas nos ombros, acompanhado dessas palavras: - Sente-se, seu doutor! Senta-se!... Diante da ameaça tão forte, só teve uma atitude, baixar a cabeça e sentar-se.
Transcrição de fatos relacionados com o cel Damasceno do livro de
Janúncio Bezerra da Nóbrega “Revivendo o Seridó”.
O NEGRO ROCK, PERIGOSO BANDIDO E SALTEADOR DO NORDESTE
De tudo existe na face da terra. - Remanescente pelo trabuco e banditismo, ele chegou de fora, do meio do mundo, na povoação de Flores, zona do Seridó, hoje municipio de Florânia, conhecido pelo célebre bandido Rock, que aproveitando-se do atraso do sertão, plantava anarquia, desordens e crimes, por toda a parte... Desta feita, obrigara as moças de família de Flores a dançarem nuas num baile.
Naqueles tempos, que já vão tão distantes não havia policiamento nas
cidades e vilas, muito menos nas residências dos fazendeiros, que distavam
léguas umas das outras, ficando assim abandonadas dos plenos favores da
justiça. – O negro Rock deixa flores depois de procedimentos inqualificáveis e
assombrosos, que ecoavam por toda parte!
Com alguns dias, paira na propriedade Laginhas, em casa do senhor Chico
do Rego. Depois de amedrontar o proprietário, intima-lhe a dar oito contos de
réis ou a vida... – O proprietário, disfarçando, arma-lhe uma rede e
convida-lhe em seguida aceitar almoço, descansar! – Põe as armas debaixo da rede.
– Antes, porem, por detrás da casa, o salteado expede portador ao coronel
Damasceno, no sitio Saco do Martins, pedindo socorre-lo do ataque que esta
sofrendo.
O
coronel que esta acompanhado do seu cunhado José Lopes, corre em socorro, tendo
o cuidado de conduzir uma peça de cordas. Segundo planejara, em amarra-lo! Chegaram em casa do assaltado, sutilmente, e
verificaram que estavam almoçando. – Dentro de um segundo pulam a porta de
baixo, e já encontram o negro acrobata no campo da luta! – Trava-se então
renhida peleja entre os três, corpo a corpo! – A vantagem fica do lado do
coronel Damasceno e Zé Lopes, que o imobilizaram e gritam para Chico do Rego,
pedindo as cordas amarradas na correia da sela! – Este diante do espetáculo
nunca visto, se encontra imóvel, tremendo demasiadamente atacado dos nervos,
cheio de um medo pavoroso... – Zé Lopes, cansado da luta, mas, com o joelho na
boca do estômago do bandido, diz para Damasceno, que podia apanhar as cordas! –
Foi algemado o cangaceiro! – Não teve tempo de usar as suas armas na luta,
constantes de punhais e clavinote de pedra. Fora preso, algemado, bem mobilizado...
- Era mais uma fera nefasta que desaparecia no sertão nordestino.
Depois teve o destino que merecia o malfeitor!
Num juazeiro, ao lado da grota do maracujá, jazia um lugar pitoresco e
esquisito, uma caveira e uma ossada humana...
Seria a decisão e destino que merecia do tribunal humano e divino. Se
ficasse vivo, mataria de emboscada muitas vidas úteis, alem de depredações
bárbaras inenarráveis de um bandido tarado, acostumado a toda espécie de
crimes.
Para os curiosos sertanejos, corria a lenda que o bandido negro Rock,
tinha sido enviado para Amazonas... Do Saco do Martins a Caicó distam cinco
boas léguas. – Muitos dizem que o criminoso escoltado pela força pública da
cidade escapulira do meio do caminho.
Assim como a sociedade se sente aliviada quando tiramos do pasto uma
cobra cascavel, assim respiramos com a morte de um mal feitor! – Ele que
tirava, roubava a tranqüilidade da família seridoense, como salteador e
bandido.
O coronel Damasceno valente e disposto conseguiu impor respeito em toda
a região! Com a palavra e conselhos, acabava com as questiúnculas existentes no
meio. Os injustiçados só corriam até o seu império no Saco do Martins. Chefe da
aristocracia seridoense era um sertanejo forte. Chefiou no reinado e na
republica.
TRAVESSURA INCRIVEL DO XANDINHO
Naqueles
tempos o coronel João Damasceno, do Saco do Martins, em Caicó, era bem
característico. Criava cerca de duas mil reses nas suas fazendas e era
importante chefe político da terra com muita influência nas adjacências. – Pela
temporada do inverno, para amansar novilhas e seus bezerros, recolhia no
curral, aproximadamente, 120 vacas paridas. Muitos tiradores de leite, pela
madrugada; a cada um daqueles auxiliares, ganhava diariamente, a sua panela de
leite, geralmente panelas que levavam dez litros de leite. – Faziam-se necessários
alguns meninos ou outras pessoas para botar bezerros. – O Xandinho, rapazinho
muito capeta, gerenciava os botadores de bezerros! – Em derredor dos potes, boa
iluminação de um mourão para que nas horas escuras, se acertasse ao despejar a
cuia de leite nas bocas dos referidos potes. Voltemos ao fato inédito.
Aconteceu, então, que Simplicio, tirador de leite. Ao recolher a sua vasilha,
notou que uma coisa dentro da panela subia e descia em mergulhos! – Bem
reconhecido aquele bolo de fezes, o homem jogou a panela no pé da cerca, muito
revoltado, quebrando-a. – Levado o fato ao coronel Damasceno, ele apurou,
chamando a sua presença todos os botadores de bezerros, faltando, porém,
Xandinho, que seria responsável por tal marmelada e astúcia.
À título de consolo, perguntou a
Simplicio se ele tinha coragem de matar Xandinho! Este, enraivecido, afirmou
que sim, desde que tivesse a sua proteção. – Pois bem; disse o coronel
Damasceno: Ele foi ao cercado buscar os animais de campo. Passarão por debaixo
daquele pé de juazeiro grande que você conhece. É o caminho. Carregarei o
clavinote e você estará trepado em cima da árvore, para segurar o tiro... -
Aproxima-se a hora, lá está o provável assassino para se vingar, de pontaria
feita e segura para ver a queda...
Mais um momento; e o Xandinho vem muito
satisfeito, feliz, com uma perna passada no pescoço do cavalo, arquitetando
planos diabólicos, traquinos, cantarolando, como jovem despreocupado... Diz
Simplicio: - É agora que aquele infeliz me paga! E apertando o dedo, Xandinho cai
fedendo quebrando os quixos nas pedras! – Dirige-se para lá, para se certificar
do defunto. - Xandinho havia sentido apenas o espanto do animal pelo pipoco e a
queda! – O clavinote estava carregado apenas de pólvora. Mas, Xandinho estava
querendo brigar pelo atentado...
O coronel Damasceno gozava com estas
brincadeiras... Mas sentia agora a sua moral atingida, de condutor da sociedade
e chefe de uma nobre região.
Xandinho era bom vaqueiro, honesto e
trabalhador. Era contudo, sonso e astucioso; gostava de presepada, ou
capiloçadas. Se acobertava do parentesco de cunhado, para pintar o sete...
Afora isto, amarrava a sua
personalidade de homem de bem, no esforço honesto e trabalho.
A PIMENTA MALAGUETA
Corre
o ano de 1908. O Céu sereno e limpo parecia render paz e quietude! Era uma
daquelas tardes que os galos cantavam para quebrar a tristeza reinante pelo
pátio. Nenhuma nuvem anunciava tempestade! – De repente se entumesce o
horizonte! Era a natureza indicando a transformação.
Lá, no fim do horizonte, distante, uma
família de retirantes aponta no pátio. Estava no meio do mundo, sem agasalho e
sem teto.
Batera ao alpendre e pediram pouso! –
Prontamente a fidalguia do sertanejo os atendeu!
Não demorou muito tempo eles revelaram
que eram aciganados. Começaram a pedir uma coisa e outra, revelando as suas
qualidades inferiores. Isto desagradou.
À boca da noite, com muito desplante e
sem acanhamento, um cidadão meio pernóstico, pediu duas pimentas para fazer chá
desinfetante, destinado a combater suas hemorróidas! Era demais!
O coronel Damasceno fez sinal que sim,
mas num gesto de silêncio, que fosse preparado o chá de uma mão de pimenta! –
Ele quando tomou aquele banho de assento, saiu doido, correndo, gritando e
pedindo socorro! – A pimenta malagueta estava queimando mais que brasa!...
Deixa que queimou e ardeu tanto, que
ele ficou bom!...
Aprendeu, porém, a não ser pedante e
descabido.
Assim eram as caçoadas, com que ele
gozava com os pernósticos.
Vivia o seu mundo, as suas peças
delirantes para a sua vida sertaneja.
ENCONTRO DO CORONEL COM OS DOUTORES JUVENAL LAMARTINE E PEDRO VELHO
Conta o Dr. Juvenal Lamartine de Faria, genro do
coronel Silvino Bezerra de Araújo Galvão, que em 1901, acompanhando numa
excursão Dr.Pedro Velho a Caicó; ao se aproximarem daquela cidade, surgiu em
frente a uma encruzilhada da estrada, o coronel Damasceno, acompanhado de um
pagem e disse: “Fui cangaceiro e ainda sei botar tocaia”!...- Eram os
comprimentos de um amigo... De volta de outros pontos percorridos, estiveram no
Saco do Martins, em casa do coronel Damasceno, onde passaram o dia e foram
fidalgamente tratados. Tinha mais de setenta anos quando por esta ocasião.
Transcrito do livro de Pery Lamartine “Coronéis do Seridó”
ANJO GABRIEL
Miguel Puçá, famoso bandoleiro, autor de muitas
mortes, tentara violentar uma mulher casada, na presença do marido; foi morto
próximo a fazenda do coronel Damasceno, onde lhe armaram uma tocaia, justamente
quando ele passava em frente se benzendo. No processo instaurado por essa
morte, tentaram envolver o Coronel Damasceno, mas nenhuma prova foi feita que
pudesse apurar a sua responsabilidade.
Dele contam-se muitas historiam interessantes e
espirituosas. Uma delas é a seguinte: - Havia em Acari um rapaz metediço e
pedante, com que Damasceno antipatizava. Na proximidade da festa da padroeira,
Damasceno meteu-lhe na cabeça que devia, para impressionar as moças, aparecer
na procissão, montado num belo cavalo e vestido do anjo Gabriel para saudar
Nossa Senhora. Aceita a proposta, Damasceno mandou confeccionar a indumentária
com as asas bastante longas e ofereceu-lhe o cavalo, que era um belo animal
irrequieto. No momento em que a procissão se aproxima da igreja o rapaz toma a
frente e diz, com toda ênfase:
Parai, parai Mãe
de Deus
Parai, parai
Soberana.
Neste momento, a
um sinal de Damasceno, a música tocou a pancadaria e subiu uma girândola de
foguetões. O cavalo disparou e desapareceu na caatinga, onde foram encontrar o
pobre anjo Gabriel de asas quebradas e todo machucado. Dessas pilherias ele fez
muitas quando rapaz.
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