Repórter da Agência Brasil
Brasília – A valorização do dólar, que fechou acima de R$ 2 pela primeira vez
em quase três anos, terá efeito sobre a inflação, principalmente sobre os preços
do aluguel e da energia, preveem economistas. Em contrapartida, os preços de
alimentos e de minérios não deverão sofrer grandes variações por causa da
retração na economia externa, que empurra para baixo os preços das
commodities – bens primários com cotação internacional.
A avaliação foi feita por especialistas ouvidos pela Agência
Brasil. Para os economistas, mesmo com o encarecimento de alguns tipos
de produtos e serviços, os impactos sobre os preços serão diluídos e o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, tende a fechar o
ano abaixo dos 6,5% registrados em 2011.
O economista-chefe da consultoria Austin Ratings, Alex Agostini, acredita que
a inflação oficial vá encerrar 2012 em 5,6%. O percentual indica aceleração em
relação à variação de 5,1%, acumulada em 12 meses até abril. Mesmo assim, o
repique não deverá ameaçar o cumprimento da meta, cujo teto é 6,5%.
Agostini, no entanto, admite que a valorização do câmbio interferirá nos
índices gerais de preços (IGP), calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Isso porque esses índices têm 60% do cálculo baseado na variação dos preços no
atacado, que refletem as variações no dólar com mais rapidez. O IGP-M, por
exemplo, é o índice usado para corrigir a energia e o aluguel.
Em relação aos preços dos alimentos, a subida do dólar não deverá ter impacto
no bolso dos consumidores. “As turbulências na Europa e a desaceleração na China
têm diminuído os preços das commodities. Essa queda é o que compensa a
alta do dólar”, explica Agostini.
A contaminação generalizada dos preços pelo câmbio pode ocorrer, mas os
próprios especialistas consideram esse cenário improvável. O professor Fábio
Kanczuk, da Universidade de São Paulo (USP), acredita que o impacto do câmbio
sobre a inflação só será duradouro se o dólar ficar em torno de R$ 2 por muito
tempo. “Se o dólar for persistente, aí, sim, haverá algum efeito sobre a
inflação”, prevê.
Professor de economia internacional da FGV, André Nassif diz que haverá algum
repasse da alta do dólar para os preços. Ele, no entanto, considera que o BC
lançará mão de outras medidas além dos juros básicos para conter a inflação. “O
BC pode usar o compulsório [recursos que os bancos são obrigados a recolher à
autoridade monetária] e as medidas de controle do crédito para lidar com a
inflação sem mexer na taxa Selic”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário