- CABORÉ NÃO! -
Bira Viegas
Cabo Adolfo era pertencente aos quadros da Polícia Militar do nosso Estado, e nos momentos de folga se tornava um exímio caçador de animais silvestres.
Costumeiramente
deixava sua residência no município de Currais Novos – RN, na companhia de dois
cachorros vira-latas e se aventurava por outros locais onde existisse caça
abundante, sempre conduzindo uma velha espingarda bate bucha.
Certa vez, ao anoitecer, chega a uma pequena cidade paraibana e antes de
se embrenhar em uma mata existente nas cercanias da mesma resolve se dirigir
até uma bodega que se encontrava de
portas abertas.
Adentra
ao recinto e se dirige ao proprietário, onde solicita uma dose de aguardente.
Pedido
atendido inicia um bate-papo com o
bodegueiro:
-
Meu amigo, esta é a cidade chamada de Caboré?
O bodegueiro – com cara de poucos amigos,
responde:
-
Forasteiro... Aqui ninguém gosta de muita conversa, e principalmente não gostamos
do nome que o senhor disse. Inclusive nossas autoridades já estão trocando o
nome desta cidade para Frei Martinho.
Cabo
Adolfo rebate:
-
Então vocês de Caboré não gostam do
nome da sua cidade?
O
bodegueiro se exalta:
-
Amigo eu já lhe disse que nós não gostamos deste nome que o senhor falou!
Cabo
Adolfo:
-
Calma! Eu posso saber o motivo pelo qual vocês não gostam do nome de Caboré?
Bodegueiro:
-
Cabra, se você repetir este nome mais uma vez, eu vou lhe dar umas tapas!
Cabo
Adolfo:
-
Vai bater em mim? Por causa deste nome de
Caboré? Eu quero é...
Não
completou a frase. Levou várias tapas no tronco
das orelhas, enquanto era empurrado para fora da bodega – acompanhado
dos seus dois cachorros, e mesmo de posse de sua velha espingarda não reagiu à
agressão, se retirando do local seguindo no rumo da mata.
Passou
a noite caçando e não conseguiu capturar nenhum animal.
Dia
clareando resolve encerrar a caçada.
Quando
vai saindo da mata avista dois caborés
pousados sobre os galhos de uma árvore.
Não
titubeia. Aponta a arma e dispara.
O
resultado é menos dois caborés na natureza.
Apanha
as duas aves e resolve se vingar do
bodegueiro que na noite anterior o havia agredido, preparando para a mesmo,
uma das suas presepadas.
Retorna
a bodega. E quando o bodegueiro
o reconhece, grita:
-
Danou-se... Você aqui de novo. O que diabo você está querendo seu forasteiro filho de uma égua?
-
Calma! Eu já estou indo embora pra minha cidade. Só passei aqui para tomar uma
dose de cana e lhe mostrar os dois
bichinhos que eu matei.
O bodegueiro, não consegue
conter à própria curiosidade e pergunta:
E quais foram os bichinhos que você
matou?
Cabo
Adolfo abre o bornal, retirando do mesmo os dois caborés mortos, e detona:
-
São dois bichinhos que aqui vocês
chamam de 'Frei Martinho'!
Pela gozação, saiu da cidade debaixo de novas
tapas no pé do ouvido e chutes no trazeiro.
Do
livro: "Causos, Rimas e Outros Escritos".
Escrito por Bira Viegas (Publicação em breve).
Um comentário:
Já estou bem informado: o nome é Frei Martinho! Deus me livre de dizer esse outro nome!...
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