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quinta-feira, 14 de março de 2013

HISTÓRIA

RIO GRANDE DO NORTE

- A SECA DE 1877 A 1879 –
Phelippe Guerra (*)

Na calamitosa sêcca de 1877 a 1879, se achava o Nordeste completamente desapercebido.
Durante annos de relativa bonança, a população quase esquecera o flagello. A ultima “secca grande” havia apparecido no período de 1971 a 1793; a ultima sêcca de um só ano, completo, fôra em 1845. O Poder Publico nada havia feito, ou tentado. Relatorios de algumas passadas comaissões jaziam esquecidos, pelas repartições officiaes.
E a desgraça opprimiu o Nordeste. A miseria, o desespero, a morte empolgaram a região. Medidas tardias, incompletas, errôneas, possiveis no momento, foram postas em pratica.
A nação inteira commoveu-se ante a tragedia; apenas o Poder Publico teve um gesto desumano.
A magnânima alma do nobre brasileiro que foi Pedro II, evitou esse monstruoso crime.
Entretanto, já era impossivel pôr um dique aos males que se avolumavam, e que a todos submergiam. Em Fortaleza, durante longos dias, o obituario não acusava numero inferior a quinhentos. No Rio Grande do Norte, a pequena cidade de Mossoró, talvez então habitada por três mil pessoas, e para onde afluira a população sertaneja, foi theatro de lúgubres scenas, elevando a cifra do obituario, durante mezes, a mais de uma centena, diariamente atirados à valla commum do cemiterio.
Aquelles que podiam fugir buscavam o Norte. Seguiam exaustos, depauperados, moribundos, abandonados.
Pisavam desconhecido sólo com o desespero e desalento de naufragos que apavorados se obrigam a inhospitas penedias.
Incultos, criados no aconchego de pobre e amado torrão, tiveram de enfrentar todas as vicissitudes do novo scenario, desde a grandeza dos rios à pequenez de exploradores; encontravam o verdor da grande floresta e o negrume de insondáveis e infectos igapós, o canto das aves e o silvo das serpentes. E, durante annos, assim tem sido o viver do Nordestino.

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(*) Do livro: “AINDA O NORDESTE”, de  PHELIPPE (Felipe) GUERRA. Impresso pela Typographia d’ “A Republica”, em Natal (RN).  Ano de 1927.
(respeitada a grafia da época)

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