- A SECA DE 1877 A 1879 –
Phelippe Guerra (*)
Na
calamitosa sêcca de 1877 a 1879, se achava o Nordeste completamente
desapercebido.
Durante
annos de relativa bonança, a população quase esquecera o flagello. A ultima
“secca grande” havia apparecido no período de 1971 a 1793; a ultima sêcca de um
só ano, completo, fôra em 1845. O Poder Publico nada havia feito, ou tentado.
Relatorios de algumas passadas comaissões jaziam esquecidos, pelas repartições
officiaes.
E
a desgraça opprimiu o Nordeste. A miseria, o desespero, a morte empolgaram a
região. Medidas tardias, incompletas, errôneas, possiveis no momento, foram
postas em pratica.
A
nação inteira commoveu-se ante a tragedia; apenas o Poder Publico teve um gesto
desumano.
A magnânima
alma do nobre brasileiro que foi Pedro II, evitou esse monstruoso crime.
Entretanto,
já era impossivel pôr um dique aos males que se avolumavam, e que a todos
submergiam. Em Fortaleza, durante longos dias, o obituario não acusava numero
inferior a quinhentos. No Rio Grande do Norte, a pequena cidade de Mossoró,
talvez então habitada por três mil pessoas, e para onde afluira a população
sertaneja, foi theatro de lúgubres scenas, elevando a cifra do obituario,
durante mezes, a mais de uma centena, diariamente atirados à valla commum do
cemiterio.
Aquelles
que podiam fugir buscavam o Norte. Seguiam exaustos, depauperados, moribundos,
abandonados.
Pisavam
desconhecido sólo com o desespero e desalento de naufragos que apavorados se obrigam
a inhospitas penedias.
Incultos,
criados no aconchego de pobre e amado torrão, tiveram de enfrentar todas as
vicissitudes do novo scenario, desde a grandeza dos rios à pequenez de
exploradores; encontravam o verdor da grande floresta e o negrume de
insondáveis e infectos igapós, o canto das aves e o silvo das serpentes. E,
durante annos, assim tem sido o viver do Nordestino.
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(*)
Do livro: “AINDA O NORDESTE”, de PHELIPPE
(Felipe) GUERRA. Impresso pela Typographia d’ “A Republica”, em Natal (RN).
Ano de 1927.
(respeitada a grafia da época)
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