- É O DOIDO –
Bira Viegas
Sem grandes recursos financeiros, utilizando
atitudes populistas e aproveitando o desgaste político provocado pelo
continuísmo do sistema que dominava os destinos de Jardim do Seridó – RN, por
mais de quarenta anos, Patrício Júnior consegue alcançar no ano de 2000 o
posto de prefeito, ao derrotar Manoel Paulino, uma grande liderança política
seridoense que já havia governado o município por quatro mandatos.
Jovem, carismático e bom de conversa
Patrício contou também com a colaboração
do seu irmão, de nome Renan, um marqueteiro
político que muito lhe ajudou no objetivo de chegar até o Palácio Prefeito
Pedro Izidro, sede da Prefeitura Municipal.
Renan troca o
município de Pena Forte no estado do Ceará, (onde assessorava o prefeito
Ronaldo, outro dos irmãos Patrício) por Jardim do Seridó. Chegando, de imediato
assume a coordenação da
campanha do irmão.
Mantém contatos com as lideranças
políticas, organiza as concentrações e comícios, cuida da propaganda e dos
recursos e, principalmente, cria “situações”
que movimentam a Campanha do "Doido”, como ficou conhecido o
candidato Patrício Júnior.
Entre as várias “situações” criadas por Renan, certamente a mais cômica e produtiva
para a campanha do Doido foi o caso da “pasta 007” .
Tudo teve
início quando o próprio marqueteiro faz divulgar em vários locais da
cidade, que no dia seguinte iria distribuir “uns agradinhos” para os eleitores mais carentes.
Na manhã seguinte, Renan é visto
circulando por vários bairros de Jardim do Seridó entrando e saindo de
residências, portando uma vistosa maleta - modelo 007, da qual não se apartava
de maneira alguma.
Logo se espalha o comentário de que o
mesmo estaria distribuindo dinheiro para os eleitores. Assessores do candidato Manoel Paulino são imediatamente
avisados e protocolam junto à Justiça Eleitoral uma representação de possível
crime eleitoral praticado por membros da coligação adversária. À justiça por
sua vez, determina à polícia uma devida apuração do fato e, caso seja
constatado algum indício de ilicitude, à detenção do responsável.
Cumprindo a determinação judicial a
polícia sai em diligência e após procurar e procurar por Renan, consegue
localiza-lo em um bairro da periferia, no instante em que o mesmo deixa às
dependências de uma casa bastante humilde conduzindo a inseparável maleta. É
feita a abordagem e em seguida o mesmo é conduzido até a delegacia de Polícia,
para maiores esclarecimentos.
Chegando à delegacia, Renan é apresentado
ao delegado e trava-se o seguinte diálogo:
- Senhor Renan, o senhor está sendo
acusado de “estar comprando votos”. O
que tem a dizer? Pergunta o delegado.
- Meu caro Delegado, meu dedicado escrivão
e meus valorosos soldados, aqui presentes, vocês sabem que eu não tenho
condições financeiras nem para arcar com os meus compromissos pessoais,
imaginem se eu tenho condições de “brincar
de Sílvio Santos” distribuindo dinheiro... Rebate Renan.
- O delegado contra ataca.
- Então o que o senhor estava fazendo nas
casas dos pobres, conduzindo esta pasta
de executivo?
- Meu bravo e competente delegado, eu
estava visitando alguns amigos, e quanto a esta maleta é propriedade minha... E
assunto final.
- Então o senhor vai ter que abrir a
mesma.
- Caro baluarte da lei, não me leve a mal.
Eu só abro esta minha maleta com a presença do meu advogado. Para tanto,
solicito-lhe o direito de um telefonema. Responde Renan.
Sentindo que estava pisando em campo
minado e querendo não ser acusado de estar tomando partido, o delegado modera o
tom e cumpre o que a lei faculta, concedendo a Renan o direito de uso do
telefone.
Nesta altura dos acontecimentos, uma
grande aglomeração de partidários de Patrício Júnior já se encontra presente à
frente da Delegacia exigindo a liberação de Renan, e gritando o refrão da
campanha: É O DOIDO... É O DOIDO... É O
DOIDO...
Muito tempo depois, um automóvel para no
local e do seu interior desce um senhor, trajando um paletó escuro, que se
dirige até o primeiro andar do prédio onde se encontra Renan, o delegado, o
escrivão e alguns policiais militares.
Era o tão esperado advogado.
É realizada uma reunião e depois de muita
conversa os presentes chegam a um consenso e quando a maleta finalmente é
aberta, um clima de perplexidade e de humor invade a sala do Delegado. Em vez
de conter dinheiro como se levava a
crer, existia dentro da mesma apenas uma pasta dental, uma escova, uma caneta e
uma cueca.
Por pouco o delegado não tem uma “bilola”.
Livre da suspeita de compra de votos,
Renan deixa a delegacia e vai ao encontro dos correligionários que “coincidentemente” já se encontravam no
local, juntamente com o candidato Patrício Júnior e alguns candidatos a uma
vaga na Câmara Municipal.
Resultado: Um grande comício, seguido de
uma passeata pelas ruas de Jardim do Seridó.
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Do livro: “CAUSOS, CONTOS E OUTROS ESCRITOS”.
Autor: Bira Viegas – Aguardando publicação (FALTA UM PATROCINADOR).
(Bira Viegas © Todos os direitos reservados)
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