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sábado, 6 de abril de 2013

O CAUSO DO DIA

- É O DOIDO –
Bira Viegas
 
    Sem grandes recursos financeiros, utilizando atitudes populistas e aproveitando o desgaste político provocado pelo continuísmo do sistema que dominava os destinos de Jardim do Seridó – RN, por mais de quarenta anos, Patrício Júnior consegue alcançar no ano de 2000 o posto de prefeito, ao derrotar Manoel Paulino, uma grande liderança política seridoense que já havia governado o município por quatro mandatos.
     Jovem, carismático e bom de conversa Patrício  contou também com a colaboração do seu irmão, de nome Renan, um marqueteiro político que muito lhe ajudou no objetivo de chegar até o Palácio Prefeito Pedro Izidro, sede da Prefeitura Municipal.
Renan troca o município de Pena Forte no estado do Ceará, (onde assessorava o prefeito Ronaldo, outro dos irmãos Patrício) por Jardim do Seridó. Chegando,  de imediato assume a coordenação  da campanha do irmão.
     Mantém contatos com as lideranças políticas, organiza as concentrações e comícios, cuida da propaganda e dos recursos e, principalmente, cria “situações” que movimentam a Campanha do "Doido”, como ficou conhecido o candidato Patrício Júnior.
     Entre as várias “situações” criadas por Renan, certamente a mais cômica e produtiva para a campanha do Doido foi o caso da “pasta  007.
Tudo teve início quando o próprio marqueteiro faz divulgar em vários locais da cidade, que no dia seguinte iria distribuir “uns agradinhos” para os eleitores mais carentes.
     Na manhã seguinte, Renan é visto circulando por vários bairros de Jardim do Seridó entrando e saindo de residências, portando uma vistosa maleta - modelo 007, da qual não se apartava de maneira alguma.
     Logo se espalha o comentário de que o mesmo estaria distribuindo dinheiro para os eleitores. Assessores  do candidato Manoel Paulino são imediatamente avisados e protocolam junto à Justiça Eleitoral uma representação de possível crime eleitoral praticado por membros da coligação adversária. À justiça por sua vez, determina à polícia uma devida apuração do fato e, caso seja constatado algum indício de ilicitude, à detenção do responsável.
 
      Cumprindo a determinação judicial a polícia sai em diligência e após procurar e procurar por Renan, consegue localiza-lo em um bairro da periferia, no instante em que o mesmo deixa às dependências de uma casa bastante humilde conduzindo a inseparável maleta. É feita a abordagem e em seguida o mesmo é conduzido até a delegacia de Polícia, para maiores esclarecimentos.
     Chegando à delegacia, Renan é apresentado ao delegado e trava-se o seguinte diálogo:
     - Senhor Renan, o senhor está sendo acusado de “estar comprando votos”. O que tem a dizer? Pergunta o delegado.
     - Meu caro Delegado, meu dedicado escrivão e meus valorosos soldados, aqui presentes, vocês sabem que eu não tenho condições financeiras nem para arcar com os meus compromissos pessoais, imaginem se eu tenho condições de “brincar de Sílvio Santos” distribuindo dinheiro... Rebate Renan.
     - O delegado contra ataca.
     - Então o que o senhor estava fazendo nas casas dos pobres, conduzindo esta pasta de executivo?
     - Meu bravo e competente delegado, eu estava visitando alguns amigos, e quanto a esta maleta é propriedade minha... E assunto final.
     - Então o senhor vai ter que abrir a mesma.
     - Caro baluarte da lei, não me leve a mal. Eu só abro esta minha maleta com a presença do meu advogado. Para tanto, solicito-lhe o direito de um telefonema. Responde Renan.
     Sentindo que estava pisando em campo minado e querendo não ser acusado de estar tomando partido, o delegado modera o tom e cumpre o que a lei faculta, concedendo a Renan o direito de uso do telefone.
     Nesta altura dos acontecimentos, uma grande aglomeração de partidários de Patrício Júnior já se encontra presente à frente da Delegacia exigindo a liberação de Renan, e gritando o refrão da campanha: É O DOIDO... É O DOIDO... É O DOIDO...
     Muito tempo depois, um automóvel para no local e do seu interior desce um senhor, trajando um paletó escuro, que se dirige até o primeiro andar do prédio onde se encontra Renan, o delegado, o escrivão e alguns policiais militares.
     Era o tão esperado advogado.
     É realizada uma reunião e depois de muita conversa os presentes chegam a um consenso e quando a maleta finalmente é aberta, um clima de perplexidade e de humor invade a sala do Delegado. Em vez de conter dinheiro  como se levava a crer, existia dentro da mesma apenas uma pasta dental, uma escova, uma caneta e uma cueca.
     Por pouco o delegado não tem uma “bilola”.
     Livre da suspeita de compra de votos, Renan deixa a delegacia e vai ao encontro dos correligionários que “coincidentemente” já se encontravam no local, juntamente com o candidato Patrício Júnior e alguns candidatos a uma vaga na Câmara Municipal.
     Resultado: Um grande comício, seguido de uma passeata pelas ruas de Jardim do Seridó.
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Do livro: “CAUSOS, CONTOS E OUTROS ESCRITOS”. Autor: Bira Viegas – Aguardando publicação (FALTA UM PATROCINADOR).
(Bira Viegas © Todos os direitos reservados)

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