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quinta-feira, 30 de maio de 2013

POESIA POPULAR

- NORDESTINÊS ANTIGO -
Karl Fern*

Na minha antiga vida rural, ainda menino
Tinha um nordestinês próprio, bem bacana
Não é que se falasse correto, nem o fino
Muito menos linguajar chulo ou sacana
Aprendia-se conversando e pouco ensino
Uma curiosa e singela linguagem cotidiana.

Bolacha do joelho, espinhaço, pá e cangote
Beiço, bucho quebrado, mucumbu e vão
Rasgava-se molambo e turma era magote
Vestia-se ceroula e cueca samba-canção
Faca viana, trinchete, suvela e cravinote
Tinha bilora, baque, topada e trupicão.

"Caba" frechado, ruim da bola, dava pinote
Desmaio era troço, passamento ou turica
Retirar pedaço era arrancar o chaboque
Tique nervoso dizia-se mono ou mussica
Tinha arranca rabo com bufete e cocorote
Muito tabefe, "tapa oi", rasteira e futica.

Qualquer objeto particular era um terém
Piquai, troço, recurso, miunsaia ou possuído
Qualquer moeda era nara, prata ou vintém
Homem pobre e velho era carcomido
Dito Papangu de Novena ou Zé Ninguém
Se sortudo fosse era chamado de parido.

Cabaré era gango, lugar daquelas perdidas
Local dos amores de homens amancebados
Morada de quengas, ditas mulheres das vidas
Que aliviavam caras safados ou precisados
Quando tinham filhos eram putas paridas
Que botavam no mundo uns amaldiçoados.

Criancinhas tinham piu ou piroca
Mulher buchuda esperava ter um fiote.
Bola de couro era capotão e de gude biloca,
Tinha marmota, espírito de porco e molecote,
Falso, invenção e malfazejo, que hoje é fofoca
E no mato tinha aceiro, tabuleiro e catingote.

O vocabulário era meio esquisito e imenso
Mas pra num deixar você leitor abilolado
Vou parando pra não parecer muito extenso
Sem "infado", lorota, rabissaca ou carquiado
Depois do moca volto outro dia, eu penso
Com mais cavilações e novo curruchiado!

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* Karl Fern é o pseudônimo do Professor Carlos Fernandes.
Do livro: Minhas Rimas

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