Ao anoitecer nessa quarta-feira,
03 de julho de 2013, Natal recebeu com tristeza a notícia da morte do
radialista Ailson Bonifácio, 78 anos, conforme disse uma notícia “um dos mais antigos
e conhecidos técnicos em radiodifusão no Rio Grande do Norte”. Convivi com
Ailson Durante o período em que trabalhei na Rádio Cabugi, mas já o conhecia de
muitas outras histórias e continuei acompanhando sua fascinante trajetória
durante todo esse tempo.
Sobre o trabalho de Ailson, posso
dizer muitas coisas, para tentar estabelecer a sua real importância. Quando
Aluízio Alves cruzou o Rio Grande do Norte para ser governador em 1960, lá
estava ele, com seu trabalho de retaguarda garantindo as transmissões da Rádio
Cabugi para os pronunciamentos, as passeatas e os comícios. Assim fez durante
todo esse tempo, colocando no ar a Rádio até sob a escolta dos militares quando
o obrigaram certa vez, de madrugada a colocar a rádio no ar para divulgação de
um comunicado.
Era Ailson quem comandava a parte
técnica quando a Cabugi resolveu modernizar sua programação e colocou no ar a
chamada “Vitrola Mágica”, com a famosa “unidade móvel de frequência modulada”.
Era um transmissão dentro de um carro, que levava junto um locutor, para
proporcionar a interação com os ouvintes. Nos carnavais, lá estavam equipes da
rádio nos clubes e nas ruas com microfone na mão e sinal garantido por ele. O
mesmo sinal que fez a Cabugi tansmitir, com Celso Martinelli, ABC x Fenebarche da
Turquia e outros jogos. E o povo potiguar o conhecia muito bem, pois seu nome
era festejado e sempre citado durante toda a programação.
O trabalho de Ailson não era fácil
nem menos complicado como hoje, quando os equipamentos são consertados através
da substituição de circuitos inteiros e pronto. Ailson navegava pelos meandros
da eletrônica sabendo o que significava a corrente que seguia pelo filamento
das válvulas, da resistência de tracinhos coloridos, da energia acumulada nos
capacitores, na intensidade dos hertz proporcionada pelo movimento dos
condensadores variáveis. Era algo fascinante vê-lo com um ferro de soldar na
mão diante de um chassi de qualquer equipamento, garantindo a circulação dos
ohms, picofaradys, watts, amperes e volts.
Depois de tudo isto, era uma
explosão de belos, potentes e agradáveis sons, com vozes, músicas e até ruídos,
quando necessários ou incontroláveis. Ailson viveu desde o tempo da galena –
aquele radinho feito no fundo do quintal com uma bobina improvisada e uma
quenga de coco, até a emocionante página da AM 640, que diz na Internet –
“Assista ao vivo”.
Cada potiguar tem alguma boa
lembrança de Ailson Bonifácio. Eu, felizmente, tenho muitas. Além de todas
essas citadas, lembranças das festas do Clubinho TN RC na Churrascaria Dom
Pedrito, nos transmissores e nas viagens inesquecíveis à Lagoa do Bomfim e
Tibau. Daquela sua voz, do seu sorriso e do seu jeito tão pacífico, que
compreendia o ser humano como ninguém. Os problemas não tiravam sua paciência e
para muitos ele era mesmo uma espécie de conselheiro, amigo, irmão. Siga em
paz, amigo.
(*) Jornalista
2 comentários:
Agradecemos cada letra, porque sabemos que elas contém sentimentos. Os mesmos sentimentos que guiaram nosso pai - Ailson - por toda a sua vida.
Teresa Cristina
Linda homenagem resgatando algumas das memórias relacionadas ao seu ofício. Uma bela constribuição à memória do rádio no Brasil. Fico feliz de conhecer através de seu relato uma parte da vida do meu avô que, infelizmente, não acompanhei muito. Parabéns pelo texto sensível. Wagner do Nascimento Rodrigues
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