- MICHELINE BORGES E A JUSTIÇA -
Jornalista Walter Medeiros
A comoção que se seguiu à infeliz declaração da jornalista
conterrânea Micheline Borges sobre as médicas cubanas parece ter sido capaz de
impedir qualquer reflexão mais equilibrada sobre o fato. Agora o episódio toma
um rumo mais duro ainda, que é a cobrança que passa a ser feita no Judiciário
por parte do Sindicato das Empregadas Domésticas, cuja categoria se sentiu
ofendida, com razão, pelas declarações.
Neste momento é preciso olhar o episódio como algo resultante dos
vícios arraigados na nossa sociedade e dele oferecer e tirar as lições que forem
possíveis, por mais difíceis e lamentáveis que se configurem. Desde o primeiro
momento em que vi a declaração na internet senti que se tratava de uma tentativa
de fazer graça com coisa séria, o que finda se transformando sempre em
brincadeira de mau gosto. Entretanto, imediatamente, certa ou errada, bem ou
mal, porém a seu modo, a jornalista fez uma espécie de retratação, mesmo que
enviesada. Na ânsia de repercutir, propagar e condenar com toda veemência, pouca
atenção foi dada ao que ela tentou mostrar.
Inicialmente, a jornalista Micheline Borges afirmou que “Foi um
comentário infeliz”. Esta frase já mostrava o início do reconhecimento de que
não agira de forma aceitável. Em seguida, ela disse que “só gostaria de pedir
desculpas”. Mais uma mostra de que tentava se redimir de um ato condenável e
impensado, mas que já havia sido praticado; estava sem jeito. Na mesma sentença,
a jornalista revelava: “fiquei muito angustiada.”. Ninguém gostaria de estar em
seu lugar nessa hora de angústia, nem cabe a mim, pelo menos, duvidar do seu
sofrimento. Tenho de olhar como verdadeiras as suas palavras.
“Não tenho preconceito com ninguém, não quis atingir ninguém, nem
ferir a imagem nem a profissão de ninguém”, disse mais a jornalista, em palavras
que não explicavam nem justificavam, mas que ninguém pode ignorar e deixar de
enxergar o que disse. Da mesma forma que não foi muito feliz a explicação que
tentou dar ao dizer que o fato “Ganhou uma proporção muito grande nas redes
sociais, onde as pessoas interpretam do jeito que querem.”. Ali não se tratava
de interpretação. A afirmação infeliz foi muito clara e não tinha nada para se
achar que ninguém iria distorcer.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais
do Rio Grande do Norte (Sindjorn), em sua nota, lamentou a "postura equivocada,
falta de zelo e respeito" da colega. Aproveitou para explicar que atua na
vigilância constante contra "qualquer tentativa de cercear o direito de imprensa
e opinião", mas "não admite nenhum tipo de preconceito".
Esse fato deve servir
de exemplo, mas as pessoas, as entidades e a Justiça precisam fazer a sua
cobrança com um mínimo de respeito e humanidade. Não seria porque ela foi
desrespeitosa que deveria ser tratada de forma idêntica pelas instituições a
quem cabe promover a reparação. Já vimos que o fato infortunado gerou para ela
grande sofrimento. Pelo menos uma retratação ela já fez, imediatamente, aliás. O
que mais dever, que seja cobrado de forma respeitosa.
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