- O ÚLTIMO MANDATO -
Nas eleições de 3 de outubro de 1950, quando Dix-sept Rosado Maia e
Manoel Varela de Albuquerque candidataram-se à sucessão de José Varela ao
governo do Estado do Rio Grande do Norte, Enoch de Amorim Garcia, Diretor do
Departamento de Agricultura, licenciou-se para disputar uma cadeira de Deputado
Federal pela legenda da UDN.
O seu compadre Sérgio Quirino, administrador da Mesa de Rendas de São
Tomé, numa demonstração de prestígio, lhe trouxe a grata notícia de que, sem lá
aparecer durante a campanha eleitoral, Enoch fora bem votado, obtendo 118
votos. No dia seguinte, visivelmente revoltado, Olavo Lamartine, que o
substituiu no Departamento de Agricultura, foi à sua residência com uma denúncia.
Certos de que, pela apuração em curso, o Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros
não seria reeleito, os Srs. Theodorico Bezerra, Dinarte Mariz, Aluízio Alves,
Gentil Ferreira e outros, reuniram-se na sede da “Tribuna do Norte”, reunião da
qual ele também participara, para, de comum acordo, transferirem os votos de
Enoch para o veterano líder político, cuja saúde precária o impedira de
participar da campanha. Olavo ficaria em Acari podando a votação de determinado
candidato apoiado pela família Lamartine. Discordando da “brejeira”, Olavo foi lhe denunciar a manobra, sugerindo assinarem,
em conjunto, uma representação ao Tribunal Regional Eleitoral. Mas, em
homenagem ao velho parlamentar, e convencido de que a sua votação seria
insuficiente para garantir-lhe uma cadeira de Deputado, Enoch nega a sua
assinatura, discordando dessa representação ao Tribunal.
Nova visita do seu compadre Sérgio Quirino, dessa vez sem a euforia de
antes, lamentando que os seus 118 votos tenham minguado para apenas oito votos.
O escrivão, Tota Assunção, a quem levou o seu protesto, respondeu não ter
nenhuma culpa, apenas concordara com Theodorico Bezerra que, dizendo ser do
conhecimento de Enoch, lhe pediu para fazer a transferência dos votos.
Divulgados os resultados da apuração, Enoch recebeu de Café Filho,
recém-eleito Vice-Presidente da República, um telegrama de agradecimento, por
haver, com a sua atitude, contribuído para a eleição de José Augusto à Câmara
Federal.
Passado algum tempo o candidato depenado encontrou-se com o velho
parlamentar, já no exercício do seu ultimo mandato, na reta final de sua longa
vida de homem público. Ao avistar o ex-Diretor do Departamento de Agricultura,
José Augusto emocionou-se e de voz embargada, quase sem poder falar, lhe deu um
abraço demorado e comovido, que o comoveu também.
<<<<< >>>>>
Transcrito
do livro: HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NA HISTÓRIA, de autoria do Professor JOSÉ
DE ANCHIETA FERREIRA. Impresso pela RN Gráfica e Editora Ltda (2ª
impressão ampliada). Natal
(RN), ano de 1989.
Nenhum comentário:
Postar um comentário