A LUTA CONTINUA!

biraviegas@bol.com.br

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

- NOVO EL-DORADO -
José Nazareno Moreira de Aguiar

Uma vasta planície, coberta de matos e possuindo uma pequena lagoa, com a denominação de "Paraná-mirim" (rio pequeno) a que o povo passou a chamar de Parnamirim, está localizada a 18 km de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte.
Segundo o historiador Luis da Câmara Cascudo, coube a um oficial do Exército Nacional, Coronel Luís Tavares Guerreiro, a honra de utilizar aquele terreno para fins militares, por ocasião das manobras que o batalhão, sob seu comando, ali realizava.
Em 1927, o mesmo oficial indicou o campo, como ideal para pouso dos aviões da "Latecoére", ao saber que um deles - "Breguet-307", da mesma companhia, aterrissara na praia de Redinha.
A indicação foi aceita.
O escritor Câmara Cascudo ressalta o fato para afirmar que o Coronel Tavares Guerreiro foi o descobridor de Parnamirim, o seu padrinho, "numa antevisão maravilhosa de que seria um dos maiores aeródromos da América, determinando que Natal  constituísse uma das oito capitais do mundo, vértice onde se entrecruzam os meridianos de todas as comunicações".
Naquele mesmo ano, a 14 de outubro, o "Nungesser-Coli", em que D. Costes e J. M. Le Brix faziam uma tournée mundial, aterrissa em Parnamirim, inaugurando, deste modo, o (hoje) mundialmente célebre "Trampolim da Vitória". Com o êxito da inauguração, ali foram construídos os hangares da "Latecoére" (C.G.A.), depois "Air France", e os da "Ala Litoria" que, com a L.A.T.I., tiveram os seus aparelhos transatlânticos pousados em Parnamirim. Ainda conforme Câmara Cascudo, a 20 de novembro, o "Laté-25, número 616, pilotado por Pivot, com Pichard e Gaffe, mecânicos, estabelecia a linha aeropostal regular, no campo de Parnamirim.


Por muitos anos, a campina verdejante era sobrevoada por aves, tornando-se ponto de atração domingueira aos nossos caçadores e de passeios daqueles que desejavam conhecer as modestas instalações daquelas companhias de aviação. Clima seco e temperado, ali a canícula era amenizada pela brisa constante, vinda do mar, depois de transpor as alturas longínquas dos morros. Nada perturbava a paz daquele imenso tabuleiro, que, vez por outra, dava eco ao apito do trem que se arrastava da capital rumo ao interior.
Condições topográficas e meteorológicas excelentes, Parnamirim reunia todas as condições exigidas pela técnica moderna. Solo resistente, planície sem acidentes, livre de morros e árvores, correntes de ar estáveis, tudo ali contribuiu para o êxito do empreendimento, mesmo numa emergência de guerra.
A disciplina militar e as obrigações burocráticas andaram juntas, como civis e soldados trabalhando unidos. E, mais uma vez, comprovou-se a vitória do espírito de cooperação entre os homens.
Os diversos departamentos da Base Aérea  norte-americana contaram com a colaboração de jovens e adultos brasileiros, os quais, mediante contrato, ali exerceram variadas funções. Nos setores militares, muitos se especializaram em trabalhos de engenharia, arquitetura e desenho, enquanto outros se dedicavam às secções de pessoal e contabilidade, setores comercial e de compras.


Da cidade partiam às primeiras horas da manhã numerosos ônibus e caminhões (estes cobertos e pertencentes ao "Airport Development Program - A. D. P.), conduzindo funcionários e operários. No Tirol, funcionava a Staff -House. Em Parnamirim-Field, os demais departamentos.
Centenas e centenas de natalenses exerceram atividades lucrativas no tempo da guerra, uns trabalhando o tempo integral, outros, apenas em horários preestabelecidos. Todos, entretanto, ostentavam na lapela o cartão de identidade, condição exigida para se entrar na Base e para receber os ordenados. Nesse particular, o americano era exigente, ao ponto de colocar, em local visível, no escritório de pagamento, o aviso bem expressivo: "Não redoma, não dinheiro", isto é, sem cartão na lapela não se poderia receber dinheiro...


A ordem imperava em tudo que se fazia na Base. "Filas" para receber dinheiro, comprar mercadoria no PX, para entrar no salão do cinema, no refeitório etc.
O norte-americano tinha medo de mosquitos e moscas, tanto assim que as janelas e portas das casas, dormitórios e salões eram guarnecidos por telas e vidraças, usando-se, constantemente, a pulverização dos recintos. Cuidavam a sério da saúde, existindo, tanto na Base como na cidade, diversos postos de profilaxia, destinados aos militares. Eram assistidos espiritual   e materialmente, dispondo de um templo único para católicos e protestantes, biblioteca, salas de música, jogos de salão, bares etc.
A guerra, entretanto, descobriu o verdadeiro Parnamirim, transformando-o em outro "El-Dorado".
Primeiramente foram os soldados da  Força Aérea Brasileira os seus desbravadores, com a instalação de sua Base. Depois, os norte-americanos, no outro lado, perto da lagoa, no "Parnamirim-Field".
Cada grupo trabalhando, intensa e ininterruptamente, construiu uma pequena cidade, de prédios, galpões, armazéns, salões, cuja matéria-prima ia desde o tijolo e o cimento, ao barro, madeira, zinco etc. A planície perdeu a sua tranquilidade de outrora, transformada que ficou em uma colmeia de trabalho, onde a agitação humana se confundia com os toques de cornetas, rufar de tambores, roncar de aviões.
Pista de dois mil metros se entrecruzavam e o asfalto começou a substituir o barro. Com seus dois mil edifícios, abrigando, em média, dez mil homens, Parnamirim moderniza-se e o dinheiro começa a circular a rodo. De todas as partes surgem trabalhadores, seduzidos pelo emprego certo e a remuneração condigna.
Inicia-se, a toque de caixa, a construção da famosa "pista de Parnamirim", ligando, numa distância de mais de vinte quilômetros, a capital do Estado ao moderno aeroporto. Seis mil operários trabalhavam dia e noite, empenhados que se achavam brasileiros e americanos na rápida construção da obra. A pista seria, como na realidade foi, a viga mestra das comunicações terrestres. Correndo numa paralela à mesma, foi construída a "pipe-line", que garantia um fornecimento diário de cem mil litros de gasolina aos aviões. O combustível era transportado em grandes navios-tanques, e, no porto de Natal, transferido aos depósitos das Limpas e destes fluíam pela "pipe-line" até os reservatórios de Parnamirim.


A pista asfaltada, que para nós representava valioso presente de guerra, foi submetida à verdadeira prova, tal o intenso tráfego de todos os tipos de veículos. Ainda hoje é utilizada.
A construção da Base de Parnamirim se constitui uma magnífica vitória das democracias. O trabalho incansável de homens que viveram sob rígida disciplina militar nos faz reconhecer o valor da organização como varinha mágica que possibilitou a realização de obra tão importante. Em pouco tempo, estava concluída a Base da FAB e logo em seguida a Base norte-americana veio completar o Aeroporto Internacional.

Cinema, quer campal ou não, intercalava-se com os festivais artísticos, no que contavam com a colaboração de artistas brasileiros, elementos de rádio daqui e de outros Estados. Famosos artista de Hollywood se exibiram em Parnamirim, arrancando aplausos de seus patrícios e de fãs brasileiros. Aos domingos a feriados, muitas pessoas visitavam as instalações da Base, estreitando-se, deste modo, os laços de amizade entre os brasileiros e norte-americanos. Nessas ocasiões, os ianques retribuíam as gentilezas, proporcionando a todos horas de recreação e bem-estar.


Um dos pontos prediletos dos visitantes era juntamente a cantina, o PX, onde se vendia quase tudo: perfumes, cigarros, doces, biscoitos, chocolates, cremes para barbear, sabonetes, giletes, cosméticos, pulseiras, relógios, além de manterem secções para lanches rápidos, bares, barbearia. Os ianques também costumavam convidar os amigos brasileiros para jantar ou almoçar em seus restaurantes, completando, assim, o programa de recepção.
"Parnamirim-Field" tornou-se em pouco tempo o novo "El-Dorado", tamanha foi a afluência de gente que vinha de toda parte, muitos ansiosos por trabalhar, outros com a esperança de enriquecimento fácil e rápido. Pensavam que lá se teria descoberto a mina de ouro, juntinho da lagoa, onde se aquartelaram os garimpeiros de Tio Sam!...

<<<<<>>>>>

Do livro: "CIDADE EM BLACK-OUT - Crônicas Referentes à Segunda Guerra Mundial", de autoria do jornalista e professor universitário JOSÉ NAZARENO MOREIRA DE AGUIAR. Editado pela Editora Universitária - UFRN. Natal (RN), ano de 1991.
Fotos anexadas retiradas do site:  http://www.sixtant.net/2011/artigos.php?cat=u.s-navy-bases-in-brazil-*&sub=u.s-navy-bases-%2828-pages--199-images%29&tag=28%29parnamirim-in-pictures

Nenhum comentário: