A LUTA CONTINUA!

biraviegas@bol.com.br

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

NA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE...

 DR. JANUÁRIO 
Umberto Peregrino 

O majestoso prédio da "Maternidade de Natal" sugere-me sempre a lembrança do seu criador, Dr. Januário Cicco. Homem curioso, paradoxal. Tinha pose de orgulhoso, era ríspido no trato, mas por dentro que bondade de coração e com que totalidade soube consagrar-se à causa das dores humanas!
Quando Natal possuía apenas uns três ou quatro médicos era um deles e manteve o único hospital da cidade, onde fazia de cirurgião, de clínico, de tudo para todos. Mais tarde, quando outros médicos povoaram a cidade e começaram a desafogá-lo, também no hospital, Dr. Januário se lançou à construção da Maternidade. Anos sobre anos foram consumidos enquanto a obra crescia, pois crescia devagar. Os recursos pingavam muito inferiores ao arrojo do seu idealizador. E quando a casa estava afinal pronta, à espera do equipamento, o último problema: foi subitamente ocupada por um Hospital Militar, naquele grave momento em que a conflagração mundial transformou Natal em praça de guerra.
Aí não haveria que objetar, era o esforço da guerra, ao qual não se pode negar nenhum meio, nem criar o menor embaraço.  Assim, porém, que cessaram as razões superiores para a ocupação da sua maternidade, o Dr. Januário entrou a lutar por recuperá-la. E, ao que todos sabem em Natal, chegou a ser atrevido dirigindo-se a excelsas autoridades que não davam ouvidos aos seus legítimos reclamos.
A Maternidade de Natal foi, portanto, obra do idealismo e da pugnacidade indomável do Dr. Januário Cicco. Singular é que de princípio o empreendimento parecia grande demais para a cidade, superior às suas forças, excessivo para as suas necessidades. Raciocinava-se com o pauperismo da nossa cidade, com a sua humildade material, ao passo que o Dr. Januário pensava apenas na causa a que ia servir, tão alta, tão decisiva para o destino da sua gente, que nada que se lhe desse seria exagerado. E aconteceu uma coisa espantosa: Natal pôs-se ao nível da sua maternidade, como se esta lhe tivesse servido de guia, de referência para a prodigiosa ascensão..
A esta obra Januário Cicco repousa num dos compartimentos de outra obra sua, o monumento que mandou erguer para servir de túmulo à filha única, Ivete. Nele o velho pai desabafou a inconsolável dor de perdê-la e toda a ternura que lhe dispensava o homem só. Ivete sempre fôra fisicamente frágil, morreu muito muito jovem e estava noiva.
Quem sabe se se explicaria por aí, por essa frustração, a fervorosa determinação com que Januário Cicco se consagrou à criação daquela opulenta maternidade?

<<<<<     >>>>>
<<<<<     >>>>>

Do livro: "CRÔNICAS DE UMA CIDADE CHAMADA NATAL", de autoria do escritor UMBERTO PEREGRINO. Publicado por Clima Editora (Vol.69). Natal - RN, ano de 1989.

Nenhum comentário: