- O RICO MANUEL MACHADO E A SUA VIÚVA -
Rostand Medeiros (*)
Dizem que no início do século XX, o comerciante Manuel Machado,
nascido em Portugal era o homem mais rico de Natal. Consta que sua prosperidade
econômica vinha principalmente do seu comércio.
Pela propaganda que vemos mais adiante, dá para ver que ele
trabalhava com importação e exportação de uma grande gama de produtos, muitos
de primeira necessidade, e ainda tinha uma participação em negócios marítimos.
Logicamente que apenas esta propaganda não explica o poder
econômico deste comerciante. Aparentemente são os investimentos em terras, onde
ele tinha muita visão na hora das aquisições, que fez aumentar seus
rendimentos. Era casado com a natalense Amélia Duarte Machado, que lhe
proporcionou uma longa união, mas que não deixou filhos.
Manuel Machado faleceu na metade da década de 1930 e começa uma
interessante história envolvendo a sua mulher, que passa a ser conhecida apenas
como a Viúva Machado.
Ela se torna muito rica, que vive de uma polpuda renda deixada
pelo espólio do marido. Mas que ao invés de abrir seu suntuoso palacete
(construído em 1910) para a provinciana sociedade natalense, localizado próximo
a Igreja do Rosário, ela se fecha em sua residência. Consta que ela
recebia poucas visitas, saia muito pouco de casa (até porque tinha uma igreja
na porta) e ainda sofria de uma estranha doença, onde se afirma que suas
orelhas eram muito grandes.
Daí as pessoas de Natal associavam este estranho fato ao de não
ter filhos, dela ser viúva e diziam que isto tudo seria um “castigo divino”.
Outros comentavam que a Viúva Machado teria realizado um “pacto com o cão” para
ficar rica e agora pagava pelos seus erros com esta doença.
Em meio à ignorância reinante, as pessoas tolas e invejosas
perceberam que a Viúva Machado, talvez para compensar a ausência de filhos
naturais, adorava conviver com crianças dos poucos amigos e dos seus parentes.
Não demorou muito e se espalhou na cidade ela comia o fígado (ou o
“fígo”) de crianças. Consta que Amélia teria sido até mesmo agredida
verbalmente e sido alvo de chacota publicamente.
Muitas mães de Natal, ao longo de muitos anos, aproveitaram a
deixa para espalhar o terror entre seus rebentos, dizendo que se eles não se
aquietassem, “a Viúva Machado vinha comer seu fígado, para evitar que suas
orelhas crescessem”. A coitada da viúva passou a ser conhecida como “papafigo”
e isso só aumentou seu isolamento. Amélia Duarte Machado faleceu no início da
década de 1960.
Provavelmente ela sofria de uma rara doença denominada Síndrome
de Treacher Collins. Esta nada mais é que um distúrbio genético que gera
defeitos no crânio e nas características faciais do seu portador. Descrita em
1900 pelo cirurgião inglês Edward Treacher Collins, esta doença afeta o tamanho
e o formato das orelhas, pálpebras, maças do rosto, maxilar inferior e
superior. A Síndrome de Treacher Collins pode ser grave em alguns casos e a
maioria dos que são afetados não possuem problemas mentais.
Pessoalmente acredito que além de sua rara doença, Amélia Duarte Machado padeceu de duas enfermidades típicas existentes entre a sociedade de Natal; a inveja e a eterna mania de dar conta da vida alheia.
Pessoalmente acredito que além de sua rara doença, Amélia Duarte Machado padeceu de duas enfermidades típicas existentes entre a sociedade de Natal; a inveja e a eterna mania de dar conta da vida alheia.
(*) Rostand Medeiros é editor do Blog Tok de História
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