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terça-feira, 3 de junho de 2014

POESIA POPULAR NORDESTINA

- ABC DE JESUÍNO BRILHANTE –
Autor Desconhecido

Agora com geral celícia
Todos na sociedade,
 Quando chegou a notícia:
Jesuíno na cidade,
Eram todos a dizer:
Por certo há novidade.
 - - - - -
Bastante fiquei veixado,
Me levantei, fui olhando,
Era o senhor Jesuíno,
Sua escolta acompanhando,
Bem vestido e bem montado
Pela rua foi passando.
- - - - -
Com grande sinceridade
Pela rua navegou,
E, encontrando um sujeito,
Por Porfírio perguntou...
Com quem tinha algum negócio,
Sua casa procurou.
- - - - -
Dignamente, chegando
Na porta logo esbarrou,
Saldando D. Luzia,
Que o Porfírio não achou:
Respondeu e disse ela
- De mim não tenha pavô...
- - - - -
Então senhor Jesuíno
Presumindo o que deseja;
Tinha mandado comprar
Vinho, genebra e cerveja;
Embora o seu portador
Violento homem seja.
- - - - -
Foi um caso admirável,
Esse agora que vos digo,
Todo o povo da cidade
Geralmente reunido;
Que todos desejam ver
Jesuíno no perigo.
- - - - -
Gritava com presunção
O comandante da armada:
- Para o senhor Jesuíno,
Temos mortalha cortada,
Temos algemas de ferro
Gargalheira preparada.
- - - - -
Há um negócio importante
Que me trouxe aqui agora;
Como não achei Porfírio
Me retiro, vou me embora.
Ficará pra outro dia,
Se encontrá-lo por fora.
- - - - -
Ideia não fez o homem,
Que estava descuidado,
Quando chegou a notícia:
- O senhor é atacado,
A tropa está reunida,
O senhor já é cercado.
 - - - - -
- Já eu sei D. Luzia
Que o Porfírio não está,
Mas enquanto não beber
Não posso me arretirar.
Já mandei um portador,
Ele pouco há de tardar.
- - - - -
Calendário de distúrbios,
Hoje aqui há de se ver,
Se me virem cercar
Muita gente há de sofrer,
Os que mais me arrojarem
Hão de chorar e gemer.
 - - - - -
Levante-se, D. Luzia,
Sem beber não me retiro,
Somos todos cangaceiros,
Bem podemos dar uns tiros.
Se me virem cercar
Verão o que nunca viram.
- - - - - 


Mansamente respondeu
O senhor Antônio do Ó:
Se me vierem cercar
Meu patrão não fica só.
E tal seja o meu destino,
Que farei botarem dó.
- - - - -
- Nesta mente, estamos todos,
Respondeu o João Delgado
Comigo contem por certo
Contra qualquer empregado
Ao depois de dar uns tiros,
Então serei retirado.
- - - - -
Oh! Que barulho como este
No Martins nunca se deu,
Muita vontade perdida,
Muita gente glória deu.
Nesta batalha tão forte
Que Jesuíno venceu.
 - - - - -
Por certo gritou: o rôlo
Que neste dia se deu,
Pelo subdelegado,
Todo o mal se procedeu,
Que o alferes sem desejo,
Constrangido cometeu.
- - - - -
Quem será teu defensor
Nesta Serra de Martins?
Não pode contar vitória,
Brevemente terás fim.
Pouco terás que viver,
Quem a ti não vir o fim.
- - - - -
Ralhando com presunção,
Jesuíno sem temor:
- Tenha sentido no cêrco,
Que eu brevemente me vou,
Não posso ficar aqui,
Que eu desta terra não sou.
- - - - -
Saíram todos do cerco
Sem temor e sem demora,
Jesuíno repetindo:
- Está chegada a minha hora,
Tenho sentido no cerco
Que a boiada vai-se embora!
- - - - -
Unidos ficaram todos
Com muita boa união.
O povo ficou dizendo:
- Lá se foram, lá se vão!
Voltaram os empregados,
Mal servidos, sem razão.
- - - - -
Voltaram os combatentes,
Indo o alferes baleado.
E o Juiz Municipal
Com um braço bem cravado;
Os mais, dizem, que gemiam
Lastimando o seu estado.
- - - - -
Chorando ficaram muitos
Sem ter remédio que dar,
Bem empregado te seja,
Quem mandou tu vires lá?
Jesuíno e sua gente
Nunca te fizeram mal.
- - - - -
Zombando foi Jesuíno,
Pabulando a sua história,
O alferes João Francisco
Com tristeza foi embora,
Chegando no Rio Grande
Já deu baixa sem demora.
 - - - - -
O til é letra do fim,
Vai-se embora navegando,
Me procure quem quiser,
Cada hora e cada instante,
Me acharão sempre às ordens:
Jesuíno Alves Brilhante.

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