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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

RN: HISTÓRIA POLÍTICA

REVOLUÇÃO DE 30


Nos idos de outubro de 1930, Natal encontrava-se agitada com o povo comemorando a vitória da revolução. Embora mantivesse boas relações com toda a sociedade civil e religiosa, Dom Marcolino Dantas, amigo de José Augusto Bezerra de Medeiros e de Juvenal Lamartine, cujo governo muitas vezes exaltara, ficou em situação incômoda, incluído no rol dos partidários do regime deposto. Querendo ajudá-lo, Paulo Herôncio de Melo, vigário da cidade de Macau, idealizou um plano: aproveitando a exaltação popular, improvisaria uma passeata que terminaria em comício em frente da igreja de Santo Antônio. Então, num discurso de exaltação revolucionária, o padre, voltando-se para a residência do bispo ali defronte, o convidaria a participar da manifestação popular. Nessa ocasião Dom Marcolino, simulando espontaneidade, apareceria na sacada do seu "palácio" e abençoaria a revolução vitoriosa.
Manoel Rodrigues de Melo, hoje membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, foi chegando à avenida Tavares de Lira quando Paulo Herôncio entrou num carro de praça descoberto em companhia do Dr. Afonso Saraiva, promotor da cidade de Macau. Acenando para o povo, o convidou a segui-lo. E começou a passeata. Mas, como um mau presságio, o velho Ford se recusou a pegar, só o fazendo depois de empurrado num longo trecho durante o qual estancava e pegava de novo.
Depois de atravessar a Duque de Caxias e a praça Augusto Severo, o cortejo subiu vagarosamente a Junqueira Aires. Na praça André de Albuquerque, esquina com a rua Santo Antonio, ouviu-se alguém, quase gritando, pedindo atenção de uma das janelas do primeiro andar do prédio da Delegacia Fiscal. A passeata estancou e todos olharam para cima, surpresos. Era o poeta e boêmio Epaminondas Lisboa que, da Liga Operária, não se cansava de exaltar o Governo Lamartine. E quando, num vozeirão, iniciou o seu discurso de louvor à revolução numa voz trêmula de orador emocionado, começaram os apupos e as vaias: "Cala-a-boca Perré, desce daí..." Quando procurava altear a voz por cima da gritaria, alguém lhe arremessou uma banda de tijolo. Mas, ligeiro, num cômico movimento de contorção que lhe derruba o chapéu de palhinha e faz o povo rir, consegue esquivar-se e também, como num passe de mágica, desaparecer.
O cortejo prossegue com o padre e o promotor agora um tanto desconfiados, temendo a repetição do incidente. Mas, tratando-se de um bispo a recepção seria diferente, pensaram.
Em frente ao Palácio Episcopal, Paulo Herôncio, de pé no carro de capota arriada, convida o bispo para abençoar a revolução. Mas, logo que ele aparece começam os assobios, abafando alguns raros aplausos. Mal Dom Marcolino termina sua benção, Paulo Herôncio encerra o comício e acena nervosamente para o povo. E a passeata prosseguiu. Dessa vez, felizmente, o carro pegou logo, sem necessidade de ser empurrado.

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Do livro: HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NA HISTÓRIA de autoria do Professor José de Anchieta Ferreira - Edição: RN Gráfica e Editora Ltda - Natal/RN, ano de 1989 (2ª edição)

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