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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

DE: ARTIGO

'O PORTUGUÊS DE DILMA' 

Prefácio do livro de Celso Arnaldo 

DEONÍSIO DA SILVA

Eram os confusos, mas esperançosos, anos 1980. Aurélio Buarque de Holanda pensou em incluir o verbo “malufar” e o substantivo “malufício” nas novas reedições do Dicionário Aurélio.
Um dicionário é mais conhecido pelo povo como pai dos burros. Todavia, muitas palavras cujo significado desconhecemos não estão lá. Outras, como as duas citadas, variantes de roubar e de malefício, ainda não foram incorporadas.
Os dicionários já estavam desatualizados quando surgiu o dilmês, o português de Dilma. E a coisa piorou. Até a dicção da presidente dificulta a busca das palavras nos dicionários. Não adianta procurar. Sua sintaxe é quase insolente.
É verdade que o povo brasileiro continua ouvindo e falando muitas palavras que não estão nos dicionários, pois sua habilidade verbal é impressionante, não apenas no uso daquelas que aprendeu, senão também no manejo daquelas que inventa a cada dia. Mas não entende o dilmês.
Por isso, este livro de Celso Arnaldo é indispensável. Aqui, ninguém será derrubado pelo tédio, sempre um mau presságio, que marca tantas declarações de nossa presidente. Nem será ofendido pelos crimes de lesa-língua, presentes nos ataques a este maravilhoso patrimônio herdado dos portugueses.
Celso Arnaldo detona o estilo presidencial: “Com sentenças que, levadas as pé da letra, sem uma rigorosa revisão, seriam barradas da ata de reunião de condomínio de um conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida, Dilma foi impondo o dilmês ao mundo civilizado”.
Será que o português de Dilma entre na categoria do enriquecimento de nossa língua? Não, a Mulher sapiens e o o “elogio da mandioca, uma das grandes conquistas da humanidade” não são provas da extraordinária criatividade dos brasileiros, que não se fecharam a imigrantes vindos de todo o mundo, entre os quais estão presentes os búlgaros nos ancestrais de Dilma Rousseff, como antes estiveram os tchecos nos de Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Os imigrantes e seus descendentes deram à língua portuguesa do Brasil não apenas milhares de novas palavras, mas também inimagináveis recursos de expressão. Todavia, mesmo que os brasileiros saibam como poucos acolher palavras novas e modos renovados de dizer as coisas, o dilmês foi rejeitado. Por isso, Celso Arnaldo afia as unhas farpadas: “O búlgaro torna-se uma língua de cantiga infantil diante do atormentado dilmês ─ idioma assemelhado ao búlgaro por sintaxe genética”.
Ele nos mostra que este povo não merecia uma presidente que fala como Dilma. Ela não é desconexa apenas no modo de governar. Também no quesito da fala são notórias suas agressões à lógica e à sintaxe. E como lhe fazem falta a cordialidade e o jogo de cintura!
Seu antecessor, que não estudou porque não quis, aliás, sabia comunicar-se com uma eficiência extraordinária no exercício da Presidência da República, mesmo tropeçando na norma culta do português, principalmente quando posto em contraste com seu antecessor, de quem disse o insuspeito Darcy Ribeiro que era um luxo ter um presidente como Fernando Henrique Cardoso.
Por motivos freudianos, era esperado que, quando a mulher viesse para o proscênio do poder, as coisas melhorassem. Se fosse mãe, melhor ainda. A mãe cuida da casa, e o Brasil é a nossa casa, a casa de todos. Ledo engano!
Os antigos gregos, que forneceram os étimos de “economia”, pela junção de “oikos”, casa, e “nomos’, ordem, achavam, entretanto, que a esperança era um mal. Porque podia nos enganar acerca do futuro. Os sábios helenos exemplificaram com um mito esta crença desconcertante. Na caixa ou jarro de Pandora, a esperança foi o único mal que não conseguiu escapar.
Sem exagero, este livro, só encontra equivalente nos antigos Febeapás de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo pelo qual era mais conhecido, nos anos 1960, a década que mudou o mundo, o jornalista Sérgio Porto, que cunhou a sigla com o fim de designar o “Festival de Besteira que Assola o País”.

Devemos a Augusto Nunes mais  mais esta revelação. Foi ele quem abrigou os saborosos textos de Celso Arnaldo, um autor que não chateia os leitores, não precisa mostrar que sabe ou como sabe, e faz do texto uma trincheira contra a ignorância. Este livro é um presente para quem quer entender o Brasil. Ah, sim, e é muito bem escrito.


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