A CATRACA VAZIA
Décio Tadeu Orlandi (*)
Há alguns anos, entrei numa estação de metrô em Estocolmo, a tão
civilizada capital da tão primeiro-mundista Suécia, e notei que havia
entre muitas catracas comuns uma de passagem livre. Questionei a
vendedora de bilhetes o porquê daquela catraca permanentemente liberada,
sem nenhum segurança por perto, e ela me explicou que era destinada às
pessoas que por qualquer motivo não tivessem dinheiro para a passagem.
Minha mente incrédula e cheia de jeitinhos brasileiros não conteve a
pergunta óbvia (para nós!): e se a pessoa tiver dinheiro mas
simplesmente quiser burlar a lei?
Aqueles olhos suecos e azuis se espremeram num sorriso de pureza
constrangedora – Mas por que ela faria isso?, me perguntou. Não lhe
respondi. Comprei o bilhete, passei pela catraca e atrás de mim uma
multidão que também havia pago por seus bilhetes. A catraca livre
continuava vazia, tão vazia quanto minha alma brasileira – e
envergonhada.
(*) Décio Tadeu Orlandi, bacharel em Letras pela USP e mestre em Literatura pela UFG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário