O DEVASTADOR 'ANEXO 9'
DELATOR RELATA EM DEPOIMENTO QUE COMBINOU PROPINA MILIONÁRIA PARA TEMER
Joesley conta que acertou propina de R$50 milhões para Temer
As denúncias mais devastadoras do empresário Joesley Batista contra
Michel Temer e o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) não estão nas
gravações de áudio já divulgadas, mas no conteúdo do chamado “Anexo 9”
da delação do presidente do Grupo JBS, cujo principal alvo é o
presidente.
Em seu depoimento a procuradores, gravado em vídeo, Joesley conta,
por exemplo, que acertou com Lourdes o pagamento de propina de R$50
milhões para o presidente Temer, caso obtivesse uma liminar no Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da
Justiça, que retirasse da Petrobras a exclusividade no fornecimento de
gás para uma termelétrica do grupo. Ele deixa claro que não tratou do
assunto com Temer, mas com Loures, considerado da "estrita confiança" do
presidente.
Os depoimentos de Joesley, citados também no site Antagonista, estão
resumidos em três páginas que compõem o Anexo 9, nos quais ele conta que
conheceu Temer por meio de Wagner Rossi, na ocasião ministro da
Agricultura do governo Dilma Rousseff. Rossi apresentou-se ao empresário
como afilhado e que operava com Temer no porto de Santos.
Joesley contou que em 2010 atendeu a um primeiro pedido do então
vice-presidente Michel Temer fazendo pagamentos no valor total R$3
milhões, sendo R$1 milhão por meio de doação oficial e R$2 milhões para
pagamento dos serviços da agência de marketing político Pública, contra a
apresentação das notas fiscais de números 149 e 155.
O presidente da JBS relatou aos procuradores da Lava Jato que em
agosto e setembro de 2010, a pedido de Temer, concordou em pagar R$240
mil a outra empresa, Ilha Produções, por meio das notas fiscais de
numeros 63, 64 e 65.
Mensalinho de R$100 mil
Joesley Batista contou que estreitou relacionamento e esteve com
Temer em “múltiplas ocasiões”, não menos de vinte vezes, em seu
escritório de advocacia, em sua casa ou no Palácio Jaburu.
Segundo seu relato, ele tinha interesse na federalização do sistema
de inspeção animal e quando em agosto de 2011 Wagner Rossi pediu
demissão do Ministério da Agricultura em meio a denúncias de
irregularidades, Temer pediu-lhe, sem rodeios, uma mensalinho de R$100
mil e mais R$20 mil para uma pessoa de nome Hamilton Hortolan. Esses
pagamentos, afirmou o empresários, foram realizados “dissimuladamente”
por cerca de um ano.
Em 2012, na campanha para a prefeitura de São Paulo, Temer pediu a
Joesley uma doação de R$3 milhões à campanha de Gabriel Chalita. O
dinheiro, diz ele, foi pago por caixa 2, mas ele menciona a emissão de
notas fiscais que prometeu depois entregar às autoridades.
Relacionamento estreito
O relacionamento se estreitou e ficou claro para Joesley Batista que
Temer, na época vice-presidente, já “operava em aliança” com Geddel
Vieira Lima, Moreira Franco e Eduardo Cunha,
Reunião realizada um pouco antes do impeachment de Dilma, diz
Joesley, Temer pediu R$300 mil para estruturar um serviço destinado a
responder os ataques que vinha sofrendo na internet. Ele estava sendo
“duramente atacado no ambiente virtual”, diz o empresário. Por indicação
de Temer, ele chamou à sua casa o marqueteiro Elsinho Mouco,
responsável por esse serviço de respostas, pagando-lhe R$300 mil em
espécie.
Geddel virou o cara
Nessa época, Joesley se aproximou de Geddel, inaugurando um “canal de
inlocução”, para o encaminhamento de suas demandas ao presidente Temer,
como por exemplo um pedido para que ele interviesse no BNDES a fim de
que o banco não vetasse a transferência da sede da JBS para o exterior.
Ministro da Secretaria de Governo, Geddel buscava atualização
constante sobre a situação de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, sabedor que
Joesley “provia ao sustento de ambos”. Geddel temia que Cunha e Funaro
se tornassem delatores. O ministro sempre perguntava ao empresário: “E o
passarinho, está calmo?”
Rocha Loures: batom na cueca
Após a demissão de Geddel Vieira Luma, o delator Joesley Batista se
viu com dificuldades na interlocução com o governo e procurou o deputado
Rodrigo Rocha Loures, iniciando uma troca de mensagens. Ele conta que
no sábado 4 de março deste ano, em uma mensagem de áudio por whatsapp,
Loures se refere a Temer como “chefe”.
Joesley se encontrou com o deputado no Hotel Fasano, em São Paulo, no
dia 6 de março durante um jantar no qual acertaram encontro com o
presidente Michel Temer para o dia seguinte, 7 de março – quando se deu a
reunião que seria gravada pelo empresário.
Loures enviou mensagens de texto com orientações sobre o encontro,
durante o qual Joesley oerguntou a Temer para indicar um interlocutor
autorizado a tratar assuntos do interesse de ambos. Temer indicou
Loures, dizendo tratar-se de pessoa de sua “mais estrita confiança”.
Enquadrando Meirelles
Nessa conversa gravada, Joesley pediu a Temer para fazer gestões
junto ao ministro Henrique Meirelles (Fazenda) para informá-lo de que
assuntos de interesse do Grupo JBS seriam também do interesse dele,
Temer.
O empresário até exemplificou, citando assuntos relativos ao Cade, à CVM e ao BNDES.
Tráfico de influência no Cade
Em 13 e 16 de março últimos, Joesley e Loures trocaram visitas em
suas respectivas casas, oportunidade em que o empresário pediu a
interferência do deputado junto ao Cade precisava obter uma limiar, no
órgão, retirando da Petrobras a exclusividade no fornecimento de gás
para a termelétrica do grupo. Lourdes ligou para uma pessoa de nome
Gilvandro (Vasconcelos Coelho de Araújo), conselheiro e presidente
interino do Cade, referido pelo deputado como “um dos nossos meninos”.
Após ouvir de Loures que poderia falar com ele sobre assuntos
“sensíveis”, na condição de homem de confiança de Temer, Joesley propôs
um negócio que resultaria no pagamento de uma propina no valor de R$50
milhões para Temer.
Na sua linguagem, Joesley prometeu a Loures que, se obtivesse a
pretendida liminar no Cade, abriria a planilha, creditando em favor de
Temer 5% do lucro, correspondentes a R$50 milhões, Loures aceitou a
oferta, segundo ele. ´
Joesley Batista prometeu lançar mais créditos na planilha na medida
em que a interferência de Temer e Lourdes em favor do grupo fossem bem
sucedidas, em negócios como energia de longo prazo e destravamento das
concessões de crédito do PIS e COFINS, com débitos de INSS. Loures
também aquiesceu.
Do: DIÁRIO do PODER
Nenhum comentário:
Postar um comentário