- O CRIME DA CALÚNIA -
Nos últimos dias, minha vida foi virada pelo avesso. Tornei-me alvo
de um turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para o qual fui
eleito por mais de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida pela
polícia sem absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade.
Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos -o que
é pior, originados de delações de criminosos confessos, a partir de
falsos flagrantes meticulosamente forjados- me trouxeram enorme
tristeza. Também, por certo, alimentaram decepção naqueles que confiaram
em mim ao longo de minha vida pública. É principalmente a estes que ora
me dirijo.
Tenho me dedicado a tentar construir um país melhor. Neste último ano
empenhei-me em ajudar o presidente Michel Temer no árduo trabalho de
reerguer o país, o que, avalio, vem sendo bem-sucedido. Há, porém,
muitos insatisfeitos e contrariados com as mudanças em marcha.
Tudo isso sofreu um abalo sísmico, na semana passada, com a
divulgação de gravações covardemente feitas pelo réu confesso Joesley
Batista de conversas com o presidente da República e de outras que
manteve comigo. Nestas, ele tenta conduzir o diálogo para criar-me todo
tipo de constrangimento.
Lamento sinceramente minha ingenuidade -a que ponto chegamos, ter de
lamentar a boa-fé! Não sabia que na minha frente estava um criminoso sem
escrúpulos, sem interesse na verdade, querendo apenas forjar citações
que o ajudassem nos benefícios de sua delação.
Além do mais, usei um vocabulário que não costumo usar, e me
penitencio por isso, ao me referir a autoridades públicas com as quais
já me desculpei pessoalmente.
Mas reafirmo: não cometi nenhum crime!
Setores da imprensa vêm destacando uma acusação do delator de que, em
2014, eu teria recebido R$ 60 milhões em “propina”. Mas muito poucos
tiveram a curiosidade de pesquisar e constatar que isso se refere
exatamente aos R$ 60 milhões que a JBS doou legalmente a campanhas do
PSDB naquele ano.
E foram raros também os que se interessaram em registrar afirmações
dos próprios delatores sobre mim -“nunca nos ajudou em nada” e “nunca
fez nada por nós”, disseram a meu respeito. Então pergunto: onde está o
crime? Aliás, de qual crime acusam a mim e a meus familiares?
Em março deste ano, solicitei a minha irmã e minha amiga, Andrea, que
procurasse o senhor Joesley, a quem ela não conhecia, e oferecesse o
que já havíamos feito sem sucesso com outros empresários brasileiros: a
compra do apartamento em que minha mãe mora, herança do seu falecido
marido, e que já estava à venda. Parte desse valor nos ajudaria a arcar
com os custos de minha defesa.
Foi do delator a sugestão de fazer um empréstimo com recursos
lícitos, que ele chamava “das suas lojinhas”, e que seria naturalmente
regularizado por meio de contrato de mútuo, até para que os advogados
pudessem ser pagos.
O contrato apenas não foi celebrado porque a intenção do delator não
era esta, mas sim criar artificialmente um fato que gerasse suspeição e
contribuísse para sua delação.
Daí por diante, fomos vítimas de uma criminosa armação feita por
elementos que não se constrangeram em criar falsas situações para
receber em troca os extraordinários benefícios de sua delação, inclusive
ganhando dinheiro especulando contra o Brasil e contra os brasileiros,
em razão da crise provocada pela divulgação das gravações. Para eles, o
crime e a calúnia certamente compensam.
São, portanto, evidentes o comprometimento de meus acusadores e a
inconsistência do teor das acusações dirigidas contra mim e minha
família. Fui vítima de criminosa armação. Mas isso não significa que não
tenha errado.
Errei ao procurar quem não deveria. Errei mais ainda, e isso me
corrói as vísceras, em pedir que minha irmã se encontrasse com esse
cidadão, que em processo de delação arquitetou um macabro e criminoso
plano para obter certamente ainda mais vantagens em seu acordo.
Vale aqui registro em relação aos motivos usados para a suspensão de
meu mandato parlamentar, iniciativa para a qual não há precedentes.
Nenhum de meus atos legislativos e políticos demonstram qualquer
intenção de obstruir a Lava Jato ou qualquer outra investigação,
tampouco interferir em instituições encarregadas de apurar os fatos. Ao
contrário, minhas posições sempre foram claras e legitimadas pelo
exercício de meu mandato.
A partir de agora, dedicarei cada instante de minha vida a provar
minha inocência e a de meus familiares, a mostrar que honrei os mandatos
e a confiança que os eleitores de Minas e de todo o país me delegaram
em mais de 30 anos de vida pública.
Usarei como armas a lei e a verdade para que esta injustificável
violência contra Andrea e contra Frederico seja rapidamente revertida.
Acredito na força da nossa democracia, confio na Justiça e na
integridade das nossas instituições. Estou convicto de que, ao cabo do
devido processo legal e do desenrolar das investigações, a verdade
prevalecerá e a correção de meus atos e de meus familiares restará
provada.
Diante da necessidade de dedicar-me integralmente à minha defesa, deixo de ocupar nesta Folha
o espaço que, durante quase seis anos, ocupei semanalmente, buscando
contribuir para aprofundar a discussão sobre os problemas do país.
Aos leitores da Folha que me acompanham nesta
jornada, de alegrias e tristezas, deixo meu sincero agradecimento. Aos
brasileiros, reafirmo a minha determinação de enfrentar este momento de
incompreensões, com a coragem e a altivez que jamais me faltaram ao
longo de toda a minha caminhada. A verdade prevalecerá!
Aécio Neves é senador (PSDB-MG). Foi candidato à Presidência em 2014 e governador de Minas Gerais entre 2003 e 2010.
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