- Assisti ao primeiro
cantador quando ainda era menino lá na minha terra, em Taperoá, sertão da Paraíba.
E naquele dia participava um grande cantador, chamado Antonio Marinho, que,
além dos improvisos, cantou um folheto, escrito por ele, que me causou grande
impressão. Depois, me lembro de um dia na biblioteca de meu pai. Ele era um
grande leitor, sabia versos de cor e era amigo de um escritor cearense chamado
Leonardo Motta, que foi um dos pioneiros da documentação sobre os poetas
populares. E lembro que estava olhando a biblioteca de casa e vi que ele tinha
dedicado um dos seus livros ao meu pai. Dedicou a seis pessoas, entre as quais
o meu pai, que é citado como uma das fontes que comunicaram versos a ele.
Então, você imagine o orgulho que eu tinha. Eu na biblioteca, pego aquele livro
e meu pai está lá como personagem. Foi aí que comecei a ver que aqueles
cantadores, que eu tinha ouvido com tanta alegria, eram assunto de livros, que
o que eles faziam eram coisas importantes. Ficou sacralizado pra mim o
cantador. Não é por acaso, talvez, que quando fui escrever O Auto da
Compadecida me baseei em três folhetos. Estão todos os três citados no livro de
Leonardo Motta. Foi O Enterro do Cachorro, de Leão de Gomes de Barros, O Cavalo
que Defecava Dinheiro, que também acho que é dele, e o Castigo da Soberba, que
é dado como de autoria de dois autores folclóricos, Anselmo Vieira de Souza e
Silvinho de Pirauá.
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