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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

CAUSO

- INTRIGA CARNAVALESCA -
Valério Mesquita (*)

Natal boêmia dos anos cinquenta. Natal lírica que se reunia toda no Grande Ponto. A história é desse tempo. 
Era carnaval no reinado do inesquecível Severino Galvão, amigo de Luiz de Barros e Roberto Freire. O compositor Dosinho lançava os seus últimos sucessos carnavalescos. E a animação tomava conta da capital que exportava folia. Tanto assim, que os jornais anunciaram a visita do Rei Momo, primeiro e único Severino Galvão, à capital do Oeste - Mossoró, levando toda a sua corte. Não podia haver notícia melhor para o estreitamento das relações entre Natal e Mossoró, pois andavam tensas por causa das estórias que os maledicentes inventavam sobre os mossoroenses.
Tudo pronto, transporte providenciado, discurso afiado do monarca nos trinques, parte a caravana real com confete e serpentina. Mas, em todo reino que se preza, sempre há um vilão à espreita que desmancha prazer e ameaça a coroa. O folião de longo curso Roberto Bezerra Freire resolve bagunçar o coreto e a viagem. Irreverente e brincalhão o engenheiro natalense enviou  telegramas urgentes a Mossoró para o Prefeito e o Delegado de Polícia alertando que "O Rei Momo que está chegando aí é um impostor". "Inclusive", prossegue o teor telegráfico, "ele vai insultar Mossoró urinando na praça Rodolfo Fernandes". Continua: Trata-se indivíduo perigoso e todo cuidado é pouco. Saudações Roberto Freire".

Ora, o mossoroense habituado, desde a resistência a Lampião, a reagir a provocação, entrou em estado de alerta para não dizer de "sítio". A chegada que se prenunciava triunfante foi tensa e hostil com todo o destacamento local formado para repelir os embusteiros. Detido o ônibus real do soberano Severino Galvão, ante a sua incontida perplexidade,  não precisa dizer que a rainha e os súditos permaneceram prisioneiros no coletivo enquanto o Rei Momo era conduzido à delegacia para dar explicações sobre a inditosa viagem e o telegrama delator. Só depois de muita negociação diplomática foram liberados. Não havia Telern e o discurso real foi transformado em desculpas intermináveis ante o lamentável incidente que abalou as ligações entre os dois povos.


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Do livro: MEMÓRIAS PROVINCIANAS - CAUSOS - de autoria do ex-deputado estadual Valério Mesquita - Impresso por Edições Sebo Vermelho - Natal/RN, Dezembro de 2004.

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