UMA HISTÓRIA DO CANGAÇO

- O TELEGRAFISTA DE SANTANA DO IPANEMA -

                                                    Anildomá Willans de Souza

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O Estado de Alagoas estava sendo governado pelo Dr. Pedro da Costa Rêgo. Por mais acirrado que fosse seu empenho no combate ao banditismo no sertão, os cangaceiros estavam sempre agindo, fazendo estrepulias, assaltando cidades, vilas e fazendas.

Com a mesma intensidade de força que o governo agia na repressão, muita gente de todos os níveis sociais, protegia o Rei do Cangaço, facilitando suas ações, fugas e despistes da polícia.

Em Santana de Ipanema não faltava gente pra dar guarida a Lampião.

Certo dia, quando as notícias sobre Lampião informavam que ele estaria pelas caatingas sergipanas, eis que surge, de supetão, todo o bando dentro da cidade, sem dar um disparo, sem alarido, mas em todas as ruas, becos e pontos estratégicos com dois ou três cangaceiros para coibir qualquer reação.

Na agência do telégrafo, o telegrafista Oliveiros José Maranhão estava com a cabeça baixa, resmungando o calor, quando pressentiu a chegada de alguém. Ao levantar a vista deparou-se com aqueles homens de vestimentas esquisitas chapéu de couro em formato de meia lua, cartucheiras na cintura e cruzando o tórax, lenços de cores berrantes no pescoço, punhais de vários tamanhos presos nas cintas, armas curtas bem a vista, seguras em coldres e nas mãos, os rifles. O da frente, usando óculos e cabelos compridos, que certamente seria o chefe. Com os olhos grelados, apenas teve fôlego de balbuciar:

"- Valha-me Deus. é Lampião!"

A mão pesada, morena e de dedos longos, cheios de anéis de ouro, com pedras preciosas, espalmou mansamente sobre a mesa do telegrafista:

"- Quero mandar um telegrama pro governador."

Assinalou o Rei do Cangaço para o funcionário, que estava pálido e sem ação pra nada.

Achando estar vendo a morte na sua frente, levantou-se para apanhar um formulário no armário e aí a mangação dos quatro cangaceiros foi grande: é que o telegrafista estava com as calças toda suja, havia se cagado todo, movido pelo medo.

Em meio as risadas, Lampião falou:

"- Eu dito e você mesmo escreve."

Todo mundo parou de rir.

Enquanto Lampião limpava as lentes dos óculos com o lenço do pescoço, ditava:

"Sr. governador, Dr. Pedro Rêgo. O senhor mandou a sua puliça me perseguir. Fique sabendo que sô acostumado a saltar riacho, quanto mais um rêgo. Assinado capitão Virgolino Ferreira da Silva - Governador do Sertão.

Conferiu o envio da mensagem.

O cheiro característico sufocava a saleta do telegrafista.

Um cangaceiro cortou os fios do telégrafo com uma peixeira.

"- Isso é pra num avisarem a ninguém qui tamo aqui. Pelo menos inté nossa saída. Agora vá pra casa se lavar, seu cagão."

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Retirada do livro 'LAMPIÃO - NEM HERÓI NEM BANDIDO - A HISTÓRIA'. Autor: Anildomá Willans de Souza - Edição do Autor - Ano de 2007.

E-mail do autor: cabrasdelampião@bol.com.br

(História contado ao autor do livro pelo jornalista e promotor de Justiça de Palmeira dos Índios, (AL)  Ivan Barros, na data de 28 de março de 2005, após entrevista concedida por Anildomá W. de Souza a uma emissora de rádio local.)