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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

É HISTÓRIA

(Natal - RN, na II Guerra Mundial)

- DEFESA PASSIVA –
José Nazareno Moreira de Aguiar  (*)

           Logo após a declaração do estado de guerra entre o Brasil e as potências do “eixo” (Alemanha, Itália e Japão), Natal tornou-se uma cidade vulnerável aos ataques inimigos.
            Por isso mesmo, viu-se transformada em praça de guerra, pois aqui os aliados possuíam sua base avançada sobre o Atlântico, verdadeira “cabeça de ponte” ligando a América do Sul ao continente africano. A internacionalmente famosa Base Aérea de Parnamirim ganhou o título de “Trampolim da Vitória”, mesmo por antecipação.
           E, como estávamos em guerra, nada mais lógico do que tratar da defesa passiva.
           O povo fora preparado, psicologicamente, para os inevitáveis ataques de aviões inimigos ou a cidade sofrer arrasador bombardeamento de cruzadores nazistas, de submarinos nipônicos.
           Vivíamos assim, sob apreensiva expectativa.
          Todo o sistema defensivo de nossas forças de terra, mar e ar, funcionou eficientemente, sendo intenso o movimento de soldados, marinheiros e aviadores brasileiros, irmanados no mesmo alevantado espírito de luta com os norte-americanos, ingleses, franceses, filipinos, que transitavam por Natal com destino às diversas frentes de batalha. Nas pistas do aeródromo pousavam e alçavam vôo aviões da Força Aérea Brasileira, que mantiveram, durante toda a guerra, rigoroso patrulhamento das nossas águas, evitando, desse modo, os ataques inesperados ou afugentando os corsários que nos rondavam às costas. De nosso porto, zarpavam os velozes vasos de nossa Marinha, enquanto se trabalhava, intensa e ininterruptamente, na construção da hoje (moderníssima) Base Naval do Natal. Nos quartéis, nos campos, nas praias, as tropas do Exército mantinham-se atentas, integradas que estavam no plano defensivo.
         E quantas páginas de heroísmo, de sacrifícios, de bravura não escreveram os nossos soldados.
         Quanta prova de acendrado amor patriótico não ficou no esquecimento! Quanto herói anônimo deu sua vida em holocausto à causa do Brasil pela vitória dos aliados! Quanta juventude sacrificada no cumprimento do dever!
         É de lamentar-se, ainda hoje, Natal não possuir um monumento em praça pública, dedicado aos heróis da última guerra. Como a memória dos heróis e santos jamais será olvidada, procuremos reparar a injustiça, fazendo emergir do esquecimento em que jazem tantos nomes dignos de figurarem no mármore, como glórias do passado, como um patrimônio que devemos zelar e transmitir aos nossos descendentes.
         Num trabalho louvável de cooperação, as autoridades civis e militares traçaram o plano da mobilização geral, que foi fielmente observado pela população. Da iminência do perigo ninguém poderia duvidar, motivo por que todos sujeitaram à disciplina militar.
         Foi instituída a Diretoria Regional do Serviço de Defesa Civil Antiaérea, presidida pelo Comendador Luiz da Câmara Cascudo, por cujo patriótico trabalho recebeu honrosas comendas. Por intermédio dessa instituição, o povo foi esclarecido e preparado para qualquer eventualidade. Instruções eram divulgadas pela imprensa e pelo rádio, tendo funcionado um curso intensivo de defesa passiva antiaérea, cujas aulas foram ministradas por autoridades, dentre as quais o Coronel André Fernandes de Souza, então Chefe de Polícia, Capitão Godofredo Rocha, Dr. Câmara Cascudo e Dr. Manoel Vilaça.
 

         O curso ensinava: em caso de ataque aéreo, o indivíduo que não se encontrasse sob a proteção do abrigo antiaéreo, deveria deitar-se onde quer que estivesse, preferencialmente junto aos meios-fios, nas sarjetas, permanecendo imóvel e imperturbável ao ruído ensurdecedor das “sirenes uivantes", que os aviões alemães usavam. Para a defesa contra os efeitos das bombas, quer explosivas ou incendiárias, aconselhava-se o uso de areia, e nunca de água como muita gente poderia pensar, Daí a necessidade de sempre ter-se ao alcance das mãos, saco de areia. Para se defender dos gazes, o indivíduo teria de ficar em posição desfavorável ao vento, tapar a boca e nariz com pano molhado. Nos casos de ataques à luz do dia, a camuflagem era indispensável. E finalmente, nos ataques noturnos, a única maneira de defesa preventiva era o “black-out”. Nem a réstia de luz para orientar o inimigo, pois uma janela iluminada poderia ocasionar a destruição da cidade.
         Durante a realização do curso, outros ensinamentos foram ministrados, relacionados com a construção de abrigos antiaéreos e sua aparelhagem sobre líquidos inflamáveis, agressivos, químicos, incêndios, gases, não sendo esquecidos os problemas do trânsito, que em época de guerra se complicam de maneira assombrosa. Aconselhava-se andar nas calçadas, não parar no meio da rua, atravessá-la em linha reta antes das esquinas, não correr na frente de veículos e durante o “black-out” atravessar as ruas nos trechos determinados pela faixa branca. As autoridades não se cansavam em recomendar: Em caso de alarme, ninguém deve sair correndo na rua. Isso sempre é morte certa. Os metralhadores nos aviões gostam do que chamam “alvo vivo”.
        Graças a esses ensinamentos, o povo ficou preparado. Todos tinham interesse em cumprir as instruções, uns por medo das bombas, outros por espírito de disciplina.
        Em determinados trechos da cidade, foram abertas valados, como recursos de emergência em caso de ataques, e, em algumas residências, foram construídos complexos abrigos antiaéreos, dotados de todos os requisitos de segurança.
        As escolas, hospitais, colégios, hotéis, igrejas, todos recebiam instruções sobre meios de defesa passiva, existindo em alguns desses estabelecimentos locais protegidos com sacos de areia.
        A população civil também colaborou na batalha do abastecimento e do racionamento, multiplicando-se as hortas e os pomares enquanto se economizava tudo que servisse de ajuda à campanha de guerra. Tivemos vários tipos de coletas com aquela finalidade, sendo de mencionar a arrecadação de objetos de alumínio e auxílios pró-aquisição de lanchas torpedeiras, nas quais os estudantes tiveram atuação destacada.

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(*) Do livro: “CIDADE EM BLACK-OUT”. Autor: José Nazareno Moreira de Aguiar. UFRN - Editora Universitária – Natal – RN, Março de 1991.

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