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DEFESA PASSIVA –
José Nazareno Moreira de Aguiar (*)
Logo após a
declaração do estado de guerra entre o Brasil e as potências do “eixo”
(Alemanha, Itália e Japão), Natal tornou-se uma cidade vulnerável aos ataques
inimigos.
Por isso mesmo,
viu-se transformada em praça de guerra, pois aqui os aliados possuíam sua base
avançada sobre o Atlântico, verdadeira “cabeça de ponte” ligando a América do
Sul ao continente africano. A internacionalmente famosa Base Aérea de
Parnamirim ganhou o título de “Trampolim da Vitória”, mesmo por antecipação.
E, como estávamos em
guerra, nada mais lógico do que tratar da defesa passiva.
O povo fora
preparado, psicologicamente, para os inevitáveis ataques de aviões inimigos ou
a cidade sofrer arrasador bombardeamento de cruzadores nazistas, de submarinos
nipônicos.
Vivíamos assim, sob
apreensiva expectativa.
Todo o sistema
defensivo de nossas forças de terra, mar e ar, funcionou eficientemente, sendo
intenso o movimento de soldados, marinheiros e aviadores brasileiros, irmanados
no mesmo alevantado espírito de luta com os norte-americanos, ingleses,
franceses, filipinos, que transitavam por Natal com destino às diversas frentes
de batalha. Nas pistas do aeródromo pousavam e alçavam vôo aviões da Força Aérea
Brasileira, que mantiveram, durante toda a guerra, rigoroso patrulhamento das
nossas águas, evitando, desse modo, os ataques inesperados ou afugentando os
corsários que nos rondavam às costas. De nosso porto, zarpavam os velozes vasos
de nossa Marinha, enquanto se trabalhava, intensa e ininterruptamente, na
construção da hoje (moderníssima) Base Naval do Natal. Nos quartéis, nos
campos, nas praias, as tropas do Exército mantinham-se atentas, integradas que
estavam no plano defensivo.
E quantas páginas de
heroísmo, de sacrifícios, de bravura não escreveram os nossos soldados.
Quanta prova de
acendrado amor patriótico não ficou no esquecimento! Quanto herói anônimo deu
sua vida em holocausto à causa do Brasil pela vitória dos aliados! Quanta
juventude sacrificada no cumprimento do dever!
É de lamentar-se,
ainda hoje, Natal não possuir um monumento em praça pública, dedicado aos
heróis da última guerra. Como a memória dos heróis e santos jamais será
olvidada, procuremos reparar a injustiça, fazendo emergir do esquecimento em
que jazem tantos nomes dignos de figurarem no mármore, como glórias do passado,
como um patrimônio que devemos zelar e transmitir aos nossos descendentes.
Num trabalho louvável
de cooperação, as autoridades civis e militares traçaram o plano da mobilização
geral, que foi fielmente observado pela população. Da iminência do perigo
ninguém poderia duvidar, motivo por que todos sujeitaram à disciplina militar.
Foi instituída a
Diretoria Regional do Serviço de Defesa Civil Antiaérea, presidida pelo
Comendador Luiz da Câmara Cascudo, por cujo patriótico trabalho recebeu
honrosas comendas. Por intermédio dessa instituição, o povo foi esclarecido e
preparado para qualquer eventualidade. Instruções eram divulgadas pela imprensa
e pelo rádio, tendo funcionado um curso intensivo de defesa passiva antiaérea,
cujas aulas foram ministradas por autoridades, dentre as quais o Coronel André
Fernandes de Souza, então Chefe de Polícia, Capitão Godofredo Rocha, Dr. Câmara
Cascudo e Dr. Manoel Vilaça.
O curso ensinava: em
caso de ataque aéreo, o indivíduo que não se encontrasse sob a proteção do
abrigo antiaéreo, deveria deitar-se onde quer que estivesse, preferencialmente
junto aos meios-fios, nas sarjetas, permanecendo imóvel e imperturbável ao
ruído ensurdecedor das “sirenes uivantes", que os aviões alemães usavam.
Para a defesa contra os efeitos das bombas, quer explosivas ou incendiárias,
aconselhava-se o uso de areia, e nunca de água como muita gente poderia pensar,
Daí a necessidade de sempre ter-se ao alcance das mãos, saco de areia. Para se
defender dos gazes, o indivíduo teria de ficar em posição desfavorável ao
vento, tapar a boca e nariz com pano molhado. Nos casos de ataques à luz do
dia, a camuflagem era indispensável. E finalmente, nos ataques noturnos, a
única maneira de defesa preventiva era o “black-out”. Nem a réstia de luz para
orientar o inimigo, pois uma janela iluminada poderia ocasionar a destruição da
cidade.
Durante a realização
do curso, outros ensinamentos foram ministrados, relacionados com a construção
de abrigos antiaéreos e sua aparelhagem sobre líquidos inflamáveis, agressivos,
químicos, incêndios, gases, não sendo esquecidos os problemas do trânsito, que
em época de guerra se complicam de maneira assombrosa. Aconselhava-se andar nas
calçadas, não parar no meio da rua, atravessá-la em linha reta antes das
esquinas, não correr na frente de veículos e durante o “black-out” atravessar
as ruas nos trechos determinados pela faixa branca. As autoridades não se
cansavam em recomendar: Em caso de alarme, ninguém deve sair correndo na rua.
Isso sempre é morte certa. Os metralhadores nos aviões gostam do que chamam
“alvo vivo”.
Graças a esses
ensinamentos, o povo ficou preparado. Todos tinham interesse em cumprir as
instruções, uns por medo das bombas, outros por espírito de disciplina.
Em determinados
trechos da cidade, foram abertas valados, como recursos de emergência em caso
de ataques, e, em algumas residências, foram construídos complexos abrigos
antiaéreos, dotados de todos os requisitos de segurança.
As escolas,
hospitais, colégios, hotéis, igrejas, todos recebiam instruções sobre meios de
defesa passiva, existindo em alguns desses estabelecimentos locais protegidos
com sacos de areia.
A população civil
também colaborou na batalha do abastecimento e do racionamento,
multiplicando-se as hortas e os pomares enquanto se economizava tudo que
servisse de ajuda à campanha de guerra. Tivemos vários tipos de coletas com
aquela finalidade, sendo de mencionar a arrecadação de objetos de alumínio e
auxílios pró-aquisição de lanchas torpedeiras, nas quais os estudantes tiveram
atuação destacada.
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(*) Do livro: “CIDADE
EM BLACK-OUT”. Autor: José Nazareno Moreira de Aguiar. UFRN - Editora Universitária – Natal – RN,
Março de 1991.
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