Bira Viegas
Hoje amanheci o dia recordando uma das
melhores fases da minha vida.
Refiro-me ao período compreendido entre a
minha infância e o início da minha adolescência, vividos no bairro do Alecrim
em Natal – RN, principalmente nos trechos compreendidos entre avenidas e ruas mais
conhecidas pelos respectivos números: 9
(avenida Coronel Estevam), 1 (rua
Presidente Quaresma), se prolongando até a 6
(rua dos Canindés) e a 2 (rua
Presidente Bandeira).
Recordei-me dos meus amigos de brincadeiras
e de travessuras. Da Mercearia Alves,
de propriedade do meu pai e que era mais conhecida como “a bodega de Seu Euclides”.
Do Armazém Estevam que era de
propriedade do Sr. Walfredo Monteiro da Costa, da mercearia de “Seu Aluízio”, do bar de “Quindô”, e de uma sorveteria que existia
na esquina das ruas Presidente Quaresma (1)
e dos Pajeús (8).
Mas a maior recordação que me veio à minha
mente foi a tradicional feira-livre do Alecrim.
Naquela época, “a feira do sábado” se iniciava no final da tarde das sextas-feiras
se prolongando até o final do dia seguinte. As barracas eram montadas na “1 com a 6” se estendendo pela avenida Coronel Estevam, no trecho
compreendido entre a 1 e a avenida
Alexandrino de Alencar. O movimento de
compradores e feirantes fazia da feira um verdadeiro formigueiro humano.
Vendia-se de tudo: cereais, carnes, pescados, frutas, verduras, artigos de uso
doméstico, roupas, sapatos, refeições, ferragens e todo tipo de quinquilharias.
Recordei-me do famoso “picado” – feito com as vísceras de carneiro
ou de porco – saboreados devidamente acompanhados de uma boa farinha de
mandioca, ou como se dizia antigamente; “farinha
de Brejinho”, e dos bebedores de doses e mais doses das cachaças das marcas:
Pitu, Caranguejo, Olho D’água, Murim e outras.
Quantas vezes não pedi dinheiro ao meu pai
para comprar o saboroso picado de “Dona
Lica”, acompanhado de arroz de leite, feijão verde e uma Crush, ou de uma
Grapette.
Recordei-me dos comerciantes de fumo de
rolo e dos vendedores de fogareiros para carvão, que eram confeccionados com
latas de querosene da marca Jacaré. Dos balaieiros e vendedores de “sacos de papeeeel”. Lembrei-me dos que
comercializavam pássaros silvestres - já que não existia repressão para esse
comércio - debaixo de uma centenária árvore existente no cruzamento das ruas 1 com a 7.
Também me recordei dos tradicionais
frequentadores, dos pedintes, dos ébrios, das prostitutas e dos alienados como
os conhecidos “Lambretinha”, “Corisco” e “Maria Sai da Lata” do
afeminado “Velocidade”, dos ciganos, dos
cantadores de viola, dos emboladores de coco, dos repentistas e outros artistas
populares que demonstravam as suas respectivas artes, e habilidades, para os
frequentadores do local.
Que tempo maravilhoso eu vivi.
Infelizmente hoje é passado. No entanto, me resta o consolo de ter ficado
marcado para sempre na minha memória.
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Do livro: “CAUSOS, RIMAS E OUTROS
IMPRESSOS”. Autoria de Bira Viegas. Aguardando
Publicação (FALTA UM PATROCINADOR).
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