A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte tem bons motivos para
lembrar, neste dia 21 de março, o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data
é comemorada desde 2006 e sua importância está no fato de reconhecer que o
indivíduo com Síndrome de Down merece respeito, garantia de direitos e
oportunidades de inclusão social.
E foi com base nisso que a Assembleia, de forma pioneira no Brasil,
contratou, através de um convênio com a Associação Síndrome de Down do Rio
Grande do Norte e a Associação de Pais e Pessoas com Deficiência, de
Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade (APABB), três funcionários com
a síndrome.
Desde 2011, Manuela Nely de Lima Araújo, Kalina Santos Focão e Felipe
Medeiros Ramos, compõem o quadro de funcionários da Casa. Lotados no
Cerimonial, desempenham funções no setor e no plenário.
No Cerimonial, Kalina, de 27 anos, e Felipe, de 28, trabalham organizando
os convites que são emitidos para eventos como sessões solenes e audiências
públicas. Já Manuela, Manu como é tratada com carinho pelos deputados, é
assistente de plenário.
Até o começo deste ano, Manu era responsável pela lista com registro dos
deputados presentes às sessões, porém, com a instalação do painel eletrônico,
teve que mudar de função e hoje é responsável por colher assinaturas de
deputados para projetos e processos que passam pelo plenário.
Os três funcionários se destacam em todos os setores da Assembleia pela
facilidade de relacionamento. Por onde passam são cumprimentados por todos a
quem conquistaram nesses cinco anos de muito trabalho. Manu, Kalina e Felipe
acordam cedo e chegam cedo à Assembleia onde cumprem expediente até às 13
horas.
Kalina e Manu dividem um motorista contratado para levá-las ao trabalho.
Felipe pega carona de manhã cedo com um primo, e volta para casa com a mãe,
Francisca Medeiros, que vai buscá-lo todos os dias.
Há poucos meses a vida de Felipe mudou. Ele perdeu o pai, vítima de um
AVC. “Eu perdi minha voz e fiquei sem trabalhar, depois eu retornei”, revelou o
jovem que tem na família unida, o porto seguro.
“Se eu definir Felipe do jeito que eu acho, é amor demais. Ele não me dá
trabalho, é compreensivo, inteligente e eu sou muito coruja”, diz Francisca,
reafirmando a dificuldade que a família vem enfrentando com a morte repentina
de Edson, ex-funcionário do Ibama.
Mãe e filho dividem alegrias e tristezas com Thiago, irmão mais velho de
Felipe que trabalha em um navio de cruzeiros e vive longe de casa. Há poucos
dias, vindo da Argentina e seguindo para a Europa, Thiago fez uma parada de
duas horas em Recife, tempo suficiente para Felipe e a mãe irem abraçá-lo. Em
seu smartphone, o funcionário da Assembleia exibe fotos e mensagens que o irmão
manda quase que diariamente, dando conta de suas viagens pelo mundo.
Discreto, o filho de Francisca é hoje um vencedor, na visão da mãe que
nunca mediu esforços para buscar a igualdade que jamais imaginou encontrar para
o filho.
“Quando ele nasceu não existia essa abertura de hoje; imagine 29 anos
atrás, sem conhecimento nenhum, ele parecia alguém totalmente inútil, sem
progresso. Uma pessoa para ser isolada”, lembra a mãe, explicando que a família
nunca parou diante da dificuldade. “Naquela época levei muitos ‘nãos’ nas
escolas. Eu matriculava o outro filho e quando eles viam Felipe, perguntavam:
‘é esse? Nós não recebemos’. Hoje com a inclusão, Felipe tem trabalho, e um
trabalho que eu nem almejei”, diz a mãe emocionada.
Apesar de ter parado de estudar, Felipe sonha em ser dentista. Nas horas
vagas gosta de jogos no computados e prefere não falar sobre namoro. “Já tive
uma e não tenho mais”, foi só o que disse.
Mais expansiva, Kalina gosta de sair, de ir para a fazenda da família, e
tem um namorado: Tiago. “Já faz oito anos. Ele é muito quieto e não tem Down. E
eu tenho minha sogra e meu sogro”, diz Kalina que costuma combinar os programas
sociais com os pais, Focão e Ana Lígia, e com o irmão Marquinhos e a namorada
dele, Lilita. “Gosto de sair com meu irmão e os amigos dele que são gente boa
demais”, diz Kalina que define seu trabalho no Cerimonial da Assembleia
Legislativa com palavras como amor, harmonia e alegria.
É exatamente assim que a chefe do Cerimonial, Gevaneide Pereira, define
os três, com quem convive diariamente. “Eles vieram engrandecer o setor e
trazer companheirismo. É uma turma muito unida e com eles a gente aprende a
conviver com limitações. Eles
desenvolvem toda e qualquer tarefa com alegria e bom humor; são muito amorosos
e nos trazem sempre doses de otimismo e alegria”.
Alegria é a palavra que define Manuela Nely, de 31 anos. Manu lembra que
estudou em escolas particulares e regulares durante boa parte de sua vida, mas
foi só no Magistério, na Escola Berilo Wanderley, que conheceu o preconceito.
“Sofri muito preconceito em sala de aula e até hoje não sei como lidar com
Matemática, Química e Física. Tinha uma professora que dizia que eu não tinha
capacidade de aprender, de passar de ano. Graças a Deus venci, porque eu
cheguei ao ponto de desistir do Magistério”, desabafa Manu, que divide suas
alegrias e conquistas com a psicopedagoga Janira Bezerra de Brito, que durante
anos lhe acompanhou.
Natural de Santa Cruz, Manu é filha única do casal Gorete e José de
Anchieta, com quem viaja nas férias e com quem divide, inclusive, as atividades
da casa. Quando não está trabalhando, Manu gosta de assistir à novela
‘Cúmplices de um Desejo’, no SBT, e se diverte nas redes sociais. “Minha vida é
uma rede social”. Sobre namorados, diz que o assunto é “pessoal” e prefere não
misturar os assuntos quando dá entrevistas.
Texto: Assessoria de Imprensa da AL/RN
Foto: João Gilberto
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