A LUTA CONTINUA!

biraviegas@bol.com.br

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

POESIA POPULAR NORDESTINA


Na tentativa de receber seus honorários pelos direitos autorais de matérias de sua autoria, publicadas por um jornal, o poeta enviou ao diretor do mesmo, a seguinte cobrança em forma de poema:

São Paulo, 3 de janeiro do ano que vai passando.

Meu amigo Alcides Lopes
Ponha ao lado os envelopes
E vá logo me escutando:
Desejo para o amigo
Um ano novo feliz
Cheio de tanta ventura
Que um verso escrito não diz.
- - - = - - -
Quero que a vida sorria
Que goze muita saúde
Que ganhe bastante dinheiro
Que Deus na terra o ajude.
- - - = - - -
Mas, escute, velho amigo,
O que eu lhe quero dizer:
Já não tenho o que fazer
Com “seu” doutor Marroquim,
Pois na sua vida boa,
Nunca se lembra de mim.
- - - = - - -
Desde janeiro passado
Que o jornal tem publicado
As produções que remeto...
E enquanto isso se publica
O poeta velho aqui fica
Cansado, chupando o dedo...
- - - = - - -
Vinte produções mandadas
Foram aí publicadas
Até com fotografias...
E enquanto eu gasto em retratos,
Vejo (ai senhores ingratos)
Minhas “gibeiras” vazias.
- - - = - - -
O Marroquim permanece
(Como quem faz uma prece)
Com a sua alma “polar”
Frio, indiferente, farto,
E eu aqui em meu quarto
Morrendo de trabalhar!
- - - = - - -
“Seu” Alcides, ouça, acorde,
A quebradeira me morde,
Não posso ficar assim!
Para não levar-me à breca,
Peça a Leitão, o careca
Que ele se lembre de mim.
- - - = - - -
Diga-lhe que o poeta sofre
Que ele abra esse velho cofre
Onde o dinheiro faz ninho
E mande-me algumas pratas
Pra eu gastar com as mulatas
Ou... com um copo de vinho!
- - - = - - -
Peça a “nota” ao Marroquim
E sapeque para mim
Um cheque de lá pra cá
A vida aqui é espeto!
E nas farras que eu me meto
Coisinha pouca não dá!
- - - = - - -
Meu caro Alcides socorra
Este náufrago infeliz!
Não deixe que aqui eu morra
Só esfregando o nariz!


Receba ainda os meus votos
Para um felicíssimo ano!
Remeta o cheque depressa.
Passe bem. Rogaciano.

Nenhum comentário: