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JURA DE CASAMENTO -
Francisco Rafael Dantas (França) (*)
Seu vigaro eu vim
aqui
Pidi a sua benção
Pá le fazer um pedido
De dentro do coração.
Foi aqui nessa
igrejinha
Qui me casei com
Zefinha
Alí no pé do artá
Faz doís anos e cinco
mêz
Qui aquilo qui o
sinhô fez
Vim pidi pra
dismanchá.
Eu sei que as coisas
de Deus
É um negócio sagrado
Inté hoje eu tô cumprindo
Aquele palavriado
Qui o sinhô disse pa
nós
Responder em arta voz
No dia do casamento
Mas minha muié
Zefinha
Esqueceu o juramento.
Logo no primeiro mês
Zefinha era carinhosa
Me cheirava em todo
canto
Mitida a meia dengosa
Eu chegava do roçado
Mermo sujo, inlamiad
Ela vinha me abraçar
Me levava pela mão
Pa fazer obrigação
Ante dagente jantar.
Nós só andava
abraçando
Pa todo canto qui ia
Pa missa, pa
procissão
Po forró, pa canturia
As vez eu ficava inté
Cum vergonha da muié
Cum aquele movimento
As vez eu lhe
catucava
Pra ver se ela
acabava
Cum aquele
inxirimento.
A nossa vida era
assim
Cum amor pa todo lado
Paricia chamechuga
Nós só drumia
abraçado.
Nós morava nun
ranchim
Lá na beira do camim
Do sítio Ponta da
Serra
Eu alegre iguá tetéu
Adorava Deus no céu
E Zefinha aqui na
terra.
Dum certo tempo prá
cá
Zefinha ficou mudada
Só passiava sozinha
Inté mermo prefumada
Eu pensei de ureia
impé
Qui diabo Zefinha qué
Qui só se ocupa em
andá
Será qui ela esqueceu
Do qui agente
premeteu
Ao padre no artá?
Inté mermo na drumida
Zefinha ficou mudada
Dava as costas para
mim
No lenço toda
inrolada
Um dia me destinei
No seu vazio catuquei
Pra vê se ela se
virava
Ela deu um coice em
mim
Qui pegou bem no
cantim
Qui ela antes
alisava.
Aí foi qui eu
discubrí
A mudança de Zefinha
Ela tava cum xodó
Cum um tá de Zé
Golinha,
Nêgo do biço virado
Só vivia embriagado
Mitido a galo de raça
Paricia inté um sapo
Ganhô Zefinha no papo
Pa fazer nossa
disgraça
Ela fugiu com o nêgo
Um dia de manhanzinha
Ainda curri atrás
Gritando: Vorta
Zefinha.
Ela nem pa trás oiava
Talvez zombando de
mim
Aí eu fiquei pensando
Deus vá le
acompanhando
Pedaço de muié rim.
Já faz quatro ou
cinco mês
Qui Zefinha foi
imbora
E o homem viver sozin
É a maior caipora
Quando chego do
roçado
Encontro feijão
queimado
Sem ter pa quem apelá
Purisso é queu vim
aquI
A seu vigaro pidi
Po sinhô me ajudá.
Tem uma muié me
ioando
Já cum os oio mei
pidão
Purisso eu peço a seu
pade
Dirmanche aquela
oração
Qui o sinhô na
capelinha
Rezô pa eu e Zefinha
Quando nós fumo casá
Eu sei qui Deus tá me
ouvindo
Mas seu vigaro
pedindo
Ele pode perdoá.
Pois esse é o único
jeito
De acabá meu
sufrimento
E deu num quebrá a
jura
Do sagrado casamento
Pois eu preciso
arranjá
Uma muié pá morá
Mais ela no meu
ranchim
Se o casório num for
nulo
Eu virá burro mulo
E viver no mundo
sozim.
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Do livro: “RETALHO
DOS MEUS POEMAS”, de autoria de Francisco Rafael Dantas (França)
– Edição do Autor. Carnaúba dos Dantas
(RN) 1996.
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